São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Rock nas alturas
MESMO NOS tempos mais graves do esvaziamento das ruas da região central, tomadas por mendigos, meninos de rua e drogados, a Galeria do Rock não se abalou. Não parou de receber as romarias de jovens das mais diversas classes sociais e tribos em busca de discos de vinil, roupas de grife exclusiva, instrumentos musicais e até cortes de cabelo estilizados. A Galeria do Rock está se preparando agora para ganhar as ruas -mais precisamente uma praça. Por trás dessa operação está Cauê de Luca, guitarrista nascido no Brás que, após tentar, sem sucesso, manter uma banda, seguiu as carreiras de DJ e produtor musical. Com o apoio do poder público, ele vem organizando, há três anos, no largo do Paissandu, bem em frente à galeria, shows musicais gratuitos. "A cidade tem uma escassez de atrações culturais, especialmente para o pessoal da periferia." Dessa iniciativa, eventual, veio a idéia de cuidar do largo Paissandu, quase sempre sujo, os jardins descuidados. Providenciou-se, então, um projeto de paisagismo, cujas obras devem começar em setembro. Para ocupar melhor o espaço, optou-se por promover nos finais de semana uma feira que misturasse gastronomia, artesanato, tatuagem e, claro, música. "A feira vai manter, nos domingos, o centro agitado e atrair jovens de todas as partes." Cauê imagina que consiga fazer uma versão alternativa da feira da Liberdade, quase sempre cheia de visitantes. Com a diferença de que, no Paissandu, o público será de jovens. A praça faz parte de um plano de ação de maior envolvimento com a cidade, inclusive habilitando jovens a fazer da música profissão. "Uma das nossa atenções será a "cracolândia'", diz Cauê, que ajudou a criar, ali, na rua do Triunfo, uma vez por mês, a Rua do Rock, com shows gratuitos ao ar livre. A região da Luz está passando por um processo de revitalização e ainda não se sabe o que fazer com aqueles jovens viciados. O que se pretende é promover, em salas da galeria, oficinas para consertos de instrumentos musicais. Além disso, serão oferecidas aulas de guitarra e percussão. "Com o tempo, queremos oferecer as mais diversas oficinas, inclusive para a produção de espetáculos." Cauê parte da premissa, inquestionável, de que a música é uma isca de inclusão de jovens -e, por isso, eles irão além do rock, abrindo-se para o rap, o reggae e, talvez, até o samba. "Os meninos têm fome de aprendizagem, precisam se ocupar com algo." Os projetos de Cauê são mais altos -literalmente. Já está pronta uma planta para a criação de um inusitado palco. Além de ocupar sua frente, na praça, a Galeria do Rock quer construir em seu terraço, no último andar, um auditório a céu aberto para apresentações. "Acho que iria dar inveja nos Beatles de não terem tocado nesse palco", diz, vislumbrando o som da guitarra misturando-se à paisagem paulistana vista do alto. Nem precisaria subir no terraço. Misturar rock, inclusão social e recuperação urbana já seria uma visão de São Paulo nas alturas. gdimen uol.com.br Texto Anterior: Metrô quer "lucrar" com valorização de imóveis Próximo Texto: A cidade é sua: Morador alerta sobre tráfego perigoso em rua na zona sul Índice |
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