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Ricos gastam com planos de saúde; pobres, com remédios
Para IBGE, dado mostra que ricos buscam prevenção e pobres precisam remediar
Do total gasto pelas famílias mais ricas com saúde, 35% são com planos privados; 43% da despesa das mais pobres vai para remédios
DA SUCURSAL DO RIO
Na hora de cuidar de sua própria saúde, os brasileiros mais
ricos destinam a maior parte de
seu orçamento para pagar planos privados, enquanto o que
mais pesa no bolso dos mais pobres é a compra de remédios.
Na análise dos técnicos que
fizeram a pesquisa do IBGE, isso mostra que há um padrão
bastante distinto de atenção à
saúde em cada grupo. Entre os
ricos, os gastos são principalmente em prevenção. Entre os
mais pobres, o pouco que sobra
do orçamento familiar é destinado sobretudo a remediar.
Dentro das despesas de saúde, o principal gasto das famílias que estão entre as 10% mais
ricas é com plano de saúde
(35% do total). Entre os 40%
mais pobres, esse mesmo percentual não passa de 4,3%.
Por outro lado, essas famílias
de menor renda acabam gastando muito mais, proporcionalmente ao seu orçamento,
com remédios. Segundo a POF
(Pesquisa de Orçamentos Familiares), 43% das despesas em
saúde vão para remédios entre
os 40% mais pobres, enquanto
entre os 10% mais ricos esse
percentual fica em 24%.
Outro dado que chamou a
atenção dos pesquisadores do
IBGE foi a discrepância nos
gastos com hospitalização: apenas 1,9% dos gastos com saúde
entre os ricos e 8% entre os
mais pobres.
Para fazer as comparações
acima, o IBGE estimou qual seria o gasto das famílias caso tivessem de pagar pelo atendimento público de saúde ou
quando foram atendidas ou receberam remédios por doação.
Essa estimativa é importante
na análise porque as famílias
mais pobres tendem a procurar
mais o setor público, já que as
de maior renda têm acesso ao
setor privado.
No caso das famílias mais ricas, 87% das despesas com saúde são independentes do serviço público. Entre as mais pobres, esse índice é de apenas
44%, o que indica que as despesas públicas ou provenientes de
doações bancam mais da metade do gasto dessas famílias.
Para o total da população, essa relação é de 68% de despesas
próprias e 32% pagas pelo setor
público ou por doações.
Serviços preventivos
Na avaliação da socióloga Lilibeth Ferreira, do IBGE, as diferenças no perfil do consumo
dos serviços e produtos de saúde evidenciam uma desigualdade que acaba tendo reflexo na
qualidade de vida.
"Essa população mais pobre
quase não tem acesso a planos
de saúde e acaba gastando muito de sua renda com remédios.
Isso indica que ela adoece mais
por falta de acesso a consultas
preventivas e pode estar se automedicando com mais freqüência", diz a socióloga.
Para Jorge Curi, presidente
da Associação Paulista de Medicina e diretor da Associação
Médica Brasileira, os dados do
IBGE sugerem também uma
dificuldade de acesso da população mais pobre aos serviços
públicos preventivos. "Esse
brasileiro mais pobre tem mais
dificuldade de acesso a exames
ou a consultas especializadas.
Por isso, acaba procurando o
pronto-socorro quando tem
que resolver um problema."
Curi reforça também que o
principal foco das políticas públicas em saúde deve estar na
prevenção. Ele lembra que as
doenças que mais matam hoje
no mundo -como as cardiovasculares- podem ser evitadas com a mudança de hábitos
alimentares e com a realização
de atividades físicas.
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