São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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Menor cidade do país, Borá "cresceu" 30 moradores

"Crescimento" é atribuído a reativação de usina de cana, cujos funcionários, em época de safra, somam mais do dobro da população local

População teme o progresso e diz que o município, de 834 habitantes, "ainda" é tranqüilo

JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO

As ruas que contornam a praça da paróquia Santo Antônio já não são mais tranqüilas como de costume, dizem os moradores. Um reflexo da cidade que cresce, apesar de ser o município com a menor população do Brasil. Borá, a 481 km a oeste de São Paulo, possui 834 habitantes, segundo a nova estimativa do IBGE.
Apesar de pequena, proporcionalmente, Borá deu um grande salto. Em 2000, eram 795 habitantes. De lá para a estimativa do ano passado, só "ganhou" nove moradores. Já de 2007 para este ano, foram 30 pessoas a mais.
Moradores atribuem à reativação de uma usina de cana, há quatro anos, uma das razões para o município já não ser assim tão tranqüilo.
"Vemos mais pessoas e carros nas ruas, carros de fora da cidade. Muita gente mudou para cá por causa da usina, até vindos do Nordeste. Não se acha mais casa para alugar", conta a professora da única escola estadual da cidade, Valdirene Marconato, 37.

Safra
Em época de safra, entre maio e novembro, a usina Iberia chega a ser maior que a própria cidade, com 2.000 funcionários, inclusive bóias-frias. E a influência deve ser ainda maior: com terreno cedido pela empresa, a prefeitura e o Estado estão construindo aproximadamente cem casas populares, em esquema de mutirão.
O terminal rodoviário, que a cidade ganhou em março, deve ajudar a receber os novos moradores. Ao lado de seu único posto de saúde, o município também ganhará um minipronto-socorro.
Apesar das mudanças, Borá continua marcada pela tranqüilidade. O último homicídio foi registrado em 2002.
Boletins de ocorrência, aliás, são poucos: foram 21 desde o início do ano -o mesmo registrado em uma manhã em uma delegacia de São Paulo.

Pequenos latifundiários
O comércio é, no mínimo, modesto, contam os moradores: resume-se a uma padaria, um açougue, uma farmácia, um posto de combustível e dois bares. "Até tentaram abrir loja de roupas, mas não deu certo", diz Valdemar Bregolato, 74.
Filho de José Bregolato, um dos pioneiros, ele teme que o sossego se vá com o progresso. "Pode ficar mais perigosa, ter mais roubos. Em Paraguaçu [Paulista, cidade vizinha], ninguém pode deixar nada no varal. Aqui, é tranqüilo. Ainda."
A pequena população torna a cidade terra de pequenos "latifundiários". Se a área de Borá, de 119 km2, fosse dividida por seus habitantes, cada pessoa teria o equivalente a 17 campos de futebol como o Maracanã (de 8.250 m2). Para comparar, na capital paulista, onde vivem 10,9 milhões, seria 0,01% de Maracanã por paulistano.
Nem sempre foi assim. Quando jovem, Bregolato conta que a cidade era mais populosa. As famílias, entretanto, venderam suas fazendas, atingidas pelas geadas de café, e migraram para Paraná e São Paulo. Pelo IBGE, chegou a ter 1.270 pessoas nos anos 1970.
Hoje, Borá carrega uma contradição: tem mais eleitores que população. São 924 aptos a votar, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).


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