São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

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SAÚDE
Internet vira vício para 10% dos usuários

JAIRO BOUER
especial para a Folha

Homens entre 25 e 35 anos com um bom nível socioeconômico, que passam incontáveis horas trabalhando na frente dos seus computadores, são o principal grupo de risco para um novo tipo de dependência que começa a ser detectado: o vício em Internet.
O psicólogo canadense Jean-Pierre Rouchon, de Quebec (http:// www.psynternaute.com) estima que 10% dos usuários de Internet possam desenvolver sintomas de dependência.
Ele acha que, para fechar o diagnóstico, é importante que a pessoa esteja usando a Internet por mais de um ano (quando já deveria ter passado o período natural de entusiasmo inicial).
Os dependentes se isolam gradualmente, deixam amigos, namorada e família de lado e passam a querer ficar cada vez mais tempo nas páginas da net (sites), nas salas de discussão (chats) e no correio eletrônico (e-mail).
Como o distúrbio é relativamente novo, poucos trabalhos científicos trazem informações confiáveis sobre a dependência da net. Ainda faltam critérios adequados para tentar se diferenciar o que é normal e o que passa a ser sintoma de um vício.
Segundo Dartiu Xavier, coordenador do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes) da Unifesp, como o diagnóstico ainda é pouco preciso e as pessoas demoram para perceber que estão tendo um problema de dependência, o número de casos ainda é pequeno.
O Proad está desenvolvendo um instrumento de avaliação da dependência da Internet. Xavier planeja colocar esse questionário na rede em breve para poder avaliar a extensão do problema no país.
Os psicólogos e psiquiatras que trabalham com o problema usam critérios de avaliação que são parecidos com os de outras dependências como álcool, drogas, jogo patológico e compra compulsiva
O tempo que a pessoa passa conectada não é o melhor ponto de corte para diferenciar o que é o normal do que é o distúrbio. Uma pessoa que passa 20 horas por semana conectada pode ser mais dependente do que uma pessoa que fica 40 horas (tempo de conexão em atividades que excluem trabalho e estudo).
O impacto que as sucessivas conexões à Internet produz na vida da pessoa é que parece ser o melhor termômetro para medir o grau de dependência. O dependente começa a trocar atividades domésticas, de lazer, de trabalho e de contato humano pela navegação nas página e salas da web.
O tratamento deve ser semelhante aos de outras dependências: evitar o contato com a causa do vício e desenvolver meios de controle sobre o comportamento repetitivo. Um psicólogo ou psiquiatra pode ajudar os dependentes a se livrar do problema.



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