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GILBERTO DIMENSTEIN
Ratinho para presidente
Orientados por especialistas
em pesquisas de opinião, alunos do Colégio Positivo, no Paraná, fizeram este mês um teste
de ignorância nas ruas de Curitiba.
Note que estamos falando de
uma cidade que ostenta um
dos mais altos padrões sociais
do país.
Eles sabiam que iriam se deparar com asneiras surpreendentes, mas não imaginavam
que a surpresa seria tamanha.
Diante de um questionário
de múltipla escolha, 23% disseram que a globalização nasceu na sede da Rede de Globo
de Televisão, numa estratégia
para ganhar audiência.
O Datafolha explica esse resultado exótico.
Pesquisa encontrou que 57%
dos brasileiros nunca ouviram
falar em globalização; 32% ouviram falar, mas não sabem o
que é.
Só 6% deram resposta correta sobre um fenômeno que não
sai um único dia do noticiário
e afeta a rotina de qualquer cidadão, como se viu com a crise
nas bolsas, detonada a partir
da Rússia.
Explica também algo que, de
fato, chamou a atenção popular na semana passada, mais
do que a crise financeira: o novo salário de Ratinho.
O empresário Silvio Santos se
dispôs a pagar R$ 43 milhões
para levar Ratinho ao SBT, onde vai ganhar, no mínimo, R$
1 milhão mensal.
Raríssimos altos executivos,
mesmo nos Estados Unidos,
país dez vezes mais rico do que
o Brasil, conseguem alcançar
tal cifra - a estrela das estrelas do telejornalismo americano (Dan Rather) ganhou reportagens ao faturar US$ 700
mil por mês.
Há um motivo a ser comemorado: ótimo que empregados,
graças a seu sucesso, consigam
atingir esse monumental patamar num reconhecimento ao
talento.
Mas, no caso de Ratinho, não
há nada a comemorar.
Por trás do salário milionário, está um extraordinário
fracasso, pilotado habilmente
pelos donos de veículos de comunicação.
É mais uma vitória da ignorância.
Impossível deixar de relacionar o sucesso de Ratinho ao
fracasso da escolaridade brasileira.
Difícil dizer que vivemos numa democracia com um grau
de desinformação tão pornográfico.
O Vox Populi perguntou
quem é o ministro da Fazenda.
Só 9% disseram Pedro Malan.
Apenas 4% souberam dizer
que Paulo Renato de Souza, o
ministro mais badalado do governo Fernando Henrique, é
ministro da Educação.
Metade não sabia que Pelé
entrou no governo federal para
cuidar dos Esportes.
A imensa maioria não percebe conceitos básicos da vida
pública.
Os alunos do Colégio Positivo fizeram, de propósito, uma
pergunta absurda: "Que você
acha da idéia de privatizar o
governo brasileiro".
Quase 70% responderam sem
se dar conta da estupidez da
questão.
Desse total, 44% concordaram com a idéia de privatizar
o governo.
Ratinho é um magnífico sintoma - fenômeno que ajuda a
entender porque políticos tão
transparentemente enganadores prosperam por tanto tempo.
São Paulo está, nesse momento, oferecendo um exemplo definitivo.
O candidato favorito, até
agora, ao governo de São Paulo se chama Francisco Rossi.
Seu slogan é "Chega dos mesmos". Reproduzindo o estilo
Collor, ao dizer que é uma cara
nova da política.
A empulhação se constataria
na leitura de sua biografia,
fartamente divulgada pelos
jornais.
A "cara nova" já foi duas vezes prefeito de Osasco, secretário de Paulo Maluf, coordenador da campanha de Collor.
Religioso, ele se atribui dons
divinos; chegou a dizer que,
com o poder da mente, abria
espaço nos congestionamentos
para seu carro passar.
Não se conclua que o "povo",
como dizia Pelé, não sabe votar.
As grandes empulhações nacionais só prosperaram porque
foram amparadas por quem
tem dinheiro e se imagina educado.
Aposto, aqui, que se Ratinho
fosse lançado para presidente
iria empolgar boa parcela do
eleitorado - exatamente como ocorreu com seu patrão,
Silvio Santos, cujo espírito público é tamanho que desmonta
programas de jornalismo e remunera com milhões a baixaria.
PS - É ótima a idéia de
abrir espaço gratuito aos candidatos exporem na televisão
seus programas, numa tentativa de inibir o poder econômico. Um notável avanço democrático.
Mas o cinismo generalizado
que, erradamente, coloca num
mesmo nível todos os políticos,
acaba dificultando o aumento
da politização.
Num levantamento realizado na semana passada em todo o país, Vox Populi detectou
que só 10% dos eleitores prestam atenção na propaganda
eleitoral.
O restante muda de canal,
desliga ou simplesmente desconsidera. A praga do marketing pode estar fazendo bem
aos candidatos, aos próprios
marqueteiros, cada vez mais
ricos -mas nenhum avanço
trouxe ainda à democracia.
E-mail: gdimen@uol.com.br
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