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SAÚDE
Objetivo é controlar expansão de cursos rápidos para psicanalistas; sociedade de evangélicos seria alvo principal
Psicanalistas querem controle da profissão
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉ SINGER
ENVIADO ESPECIAL AO RIO DE JANEIRO
A Associação Brasileira de Psicanálise (ABP) discute hoje, em
um encontro no Hotel Glória, no
Rio de Janeiro, com representantes de cerca de 20 instituições ligadas ao exercício da psicanálise,
uma forma de regulamentar a
profissão no país.
A proposta do presidente da
ABP, Wilson Amendoeira, é criar
um conselho de auto-regulamentação de psicanalistas como o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) é
para os publicitários.
O objetivo, segundo Amendoeira, é combater a expansão de
"cursos predatórios com formação simplificada feita por profissionais desconhecidos do meio".
Os evangélicos seriam um dos
grupos de maior destaque que patrocinam esses cursos.
"É bom esclarecer uma possível
confusão. Normalmente, psicanalistas não costumam ter uma
prática religiosa consistente, mas
isso pode ocorrer. Eu conheço alguns muito bons que têm essa
prática", declara Amendoeira.
O Conselho Federal de Medicina e o Instituto Sedes Sapientiae,
de São Paulo, são algumas das entidades envolvidas na discussão
da ABP. Em junho, foi realizado o
primeiro encontro.
A Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil (Spob), comandada por evangélicos de várias igrejas, é a que mais chamou a atenção da ABP.
Segundo Amendoeira, "a Spob
pratica propaganda enganosa" e
atrai gente que desconhece a psicanálise com a promessa de uma
formação fácil e rápida. O curso
da sociedade dura 20 meses, com
aulas uma vez por mês.
De acordo o site da Spob, a sociedade tem 827 psicanalistas formados e 950 em formação.
Amendoeira afirma ainda que a
Spob oferece aos alunos uma
"inscrição num falso e ilegal Conselho Psicanalítico Regional".
A ABP já entrou com duas representações no Ministério Público contra as iniciativas desse grupo. Agora, a associação está tentando outras vias de combate à
sociedade. "O importante é criar
um campo psicanalítico comum,
que permita enfrentar o problema
na sociedade", diz Amendoeira.
A ABP é filiada à International
Psychoanalytical Association
(IPA), fundada por Sigmund
Freud (1856-1934) em 1910.
Pelos padrões da IPA, um psicanalista demora cerca de dez anos
para se formar.
Hoje há apenas 980 psicanalistas reconhecidos pela IPA no Brasil, depois de 50 anos de atividade
oficial. A primeira sociedade, de
São Paulo, foi fundada em 1927,
mas só foi oficialmente reconhecida pela IPA em 1951.
Os cursos de psicanálise para
pastores já foi alvo de crítica dos
próprios evangélicos. Segundo o
psicólogo Ageu Heringer Lisboa,
do Centro de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), a entidade distribuiu, em 97, dois artigos condenando a prática.
O CPPC é presidido por Uriel
Heckert, doutor em psiquiatria e
professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, e já publicou,
em conjunto com a editora Ultimato, o livro "Cartas Freud-Psfister 1909-1939", com tradução de
Karen Kepler Wondracek.
"O documento trata dos riscos
de formações espúrias, surrealistas e eticamente sofríveis, propostas por sociedades de terapia divina ou de psicologia cristã. Isso
subverte uma tradição normativa
adotada em todo o mundo", diz
Ageu Heringer Lisboa.
Para o psicólogo presbiteriano,
os cursos do Sbop "desviam a formação da própria psicanálise e da
atividade pastoral".
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