São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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SEGURANÇA

Presas da Penitenciária Feminina, no Carandiru, fizeram duas funcionárias como reféns; revolta durou 9 horas

Rebelião é encerrada sem feridos graves

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

Duas semanas após a Casa de Detenção ser desativada, o Complexo do Carandiru (zona norte de São Paulo) foi palco de nova rebelião no final de semana. Detentas da Penitenciária Feminina se rebelaram por cerca de nove horas e só foram controladas por volta das 3h30 de ontem. A rebelião terminou com a transferência de duas presas e sem feridos.
Segundo a Polícia Militar, a revolta começou por volta das 18h30 do sábado e atingiu os quatro pavilhões do presídio, que abriga 560 detentas. Duas agentes penitenciárias foram feitas reféns. Uma delas, que chegou a ser levada para o telhado de um dos pavilhões, foi libertada às 21h30 de anteontem, e a segunda, por volta das 3h de ontem.
"Duas detentas estão sendo transferidas porque foram as líderes da rebelião", disse o coronel Tomaz Alves Canjerana, comandante da Tropa de Choque. Elas foram encaminhadas para a penitenciária feminina do complexo de Tremembé (138 Km a nordeste de São Paulo).
Segundo o bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, dom Pedro Luís Stringhini, as presas pediam melhores condições de vida. Ele acompanhou as negociações juntamente com o padre Júlio Lancelotti, da Pastoral Carcerária. A presença da Igreja foi exigida pelas rebeladas. "Nós éramos a garantia de que tudo ia sair bem", explicou Stringhini.
No sábado à noite, quando a rebelião ainda não estava controlada, alguns PMs que participavam da operação informaram que a revolta teria começado após uma frustrada tentativa de fuga. Teria faltado água no presídio na manhã de sábado e, à tarde, após o abastecimento ser restabelecido, as presas teriam tentado uma fuga durante o banho coletivo. A informação não foi confirmada pelo coronel Olinto Neto Bueno, assessor de gabinete da Secretaria de Administração Penitenciária.

Tensão
O início da noite de sábado foi o período mais tenso da rebelião.
Próximo das 21h, um tenente da PM saiu da penitenciária ferido na cabeça. Algumas rebeladas estavam nos telhados de dois pavilhões e jogaram telhas contra os policiais. Uma delas teria atingido o tenente. Somente após um helicóptero Águia da PM sobrevoar o local, elas deixaram os telhados.
Às 21h15, 36 policiais da tropa de choque entraram no presídio durante as negociações. De acordo com Bueno, eles permaneceram no pátio, do lado de fora dos pavilhões.
Cinco minutos depois, funcionárias da penitenciária abriram os portões e, nervosas, gritaram pelos bombeiros, que até então mantinham dois caminhões e um carro de resgate do lado de fora da penitenciária. As rebeladas haviam incendiado colchões e roupas no pátio da entrada do presídio. As chamas tinham cerca de três metros de altura mas, segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo foi facilmente controlado.
Por volta das 21h30, funcionários do presídio comemoraram, aos gritos, a libertação da primeira refém. Segundo alguns PMs, ela teria dito que chegou a ser torturada pelas detentas, que estavam "armadas" com estiletes.
Os 36 policiais da Tropa de Choque deixaram o presídio às 3h do domingo, quando a última refém foi libertada e as duas detentas transferidas. (DAGUITO RODRIGUES E FAUSTO SALVADORI FILHO)


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