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Testemunha revela detalhes de tortura a comerciante
FABIANA CIMIERI
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Em dois depoimentos à Polícia
Federal, o preso Fabiano de Oliveira Costa, 28, disse que o comerciante sino-brasileiro Chan Kim
Chang foi espancado por um
agente penitenciário e três detentos com um bastão de madeira
apelidado de "direitos humanos"
por guardas do presídio Ary
Franco. Quatro agentes e dois
presos teriam presenciado a tortura, que durou quase uma hora.
Costa foi retirado ontem do Ary
Franco, por ordem judicial, e pode ser transferido para Brasília.
De madrugada, o preso foi submetido a exame no Instituto Médico Legal, depois que sua mulher, a advogada Fernanda Neiva,
procurou a PF para dizer que ele
havia sido torturado no presídio.
O exame de corpo de delito indica que Costa tem uma queimadura no lado direito da bochecha,
um hematoma no lado direito e
dois arranhões no lado esquerdo
do pescoço.
Ao saber do laudo, o procurador da República Leonardo Cardoso Freitas pediu à Justiça a
transferência da testemunha.
Para o secretário estadual de
Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, os ferimentos em Costa foram provocados pela mulher do preso e por ele
próprio. "Ele não apanhou, felizmente", disse, para quem a advogada e o procurador Leonardo
Cardoso Freitas "articularam" a
versão da agressão para transferir
o preso. Procurado pela Folha,
Freitas não foi encontrado.
Em um primeiro depoimento
na 24ª DP (Delegacia de Polícia),
de madrugada, Costa disse ter se
queimado ao dormir com um cigarro na boca. De manhã, na Superintendência da PF, responsabilizou pela agressão outros presos, que estariam revoltados com
os depoimentos sobre as torturas
sofridas por Chan.
O delegado Victor Poubel, presidente do inquérito sobre a morte do comerciante, acredita na
possibilidade de represália.
A Folha teve acesso aos depoimentos de Costa, tido pelo Ministério Público Federal e pela PF como a principal testemunha das
agressões que resultaram na morte de Chan, no último dia 4.
Neles, Costa afirma que presenciou a maior parte das agressões.
Disse que só resolveu depor por
ter sido ameaçado pelo diretor do
presídio, Alexandre Azevedo, que
pediu que ele mudasse o depoimento para incriminar o ex-diretor Luiz Matias e os seis agentes
penitenciários que estão presos.
Azevedo não foi localizado pela
reportagem da Folha.
Costa afirmou que Matias estava fora do Ary Franco quando
Chan foi espancado e que dois
agentes presos -Raul Broglio Júnior e Dênis Gonçalves Monsores- não agrediram Chan. Por
ter se negado a mentir, Costa afirma ter sido trancado em uma cela.
Nos depoimentos, Costa detalha as torturas que teriam sido sofridas pelo comerciante em 27 de
agosto, um dia após chegar ao Ary
Franco. O preso responsabiliza o
agente Éverson Motta, que está
preso, como principal agressor.
Segundo Costa, Motta levou à
sala de inspetoria Chan e um preso australiano. Chan teria manchas roxas nos cotovelos e um
braço inchado, lesões que Motta
queria fotografar. Na sala de disciplina, onde Costa diz que estavam
o agente Ricardo Sarmento Alves
e dois presos de confiança, Chan
não quis ser fotografado.
Motta pegou na sala de inspetoria um bastão de madeira, semelhante a uma enxada sem a ponta
cortante, batizado de "direitos
humanos", voltou para a sala onde estava Chan e disse: "Agora vamos ver se ele tira ou não as fotos". A porta foi fechada e "pareceu que desabava o mundo", afirmou Costa.
Quando a porta foi aberta, Chan
estava no chão, segundo a testemunha. Tentou se levantar segurando o pé de uma mesa, que virou, fazendo com que ele caísse
para trás e batesse a cabeça numa
gaveta de metal. "Começou a esguichar sangue. [Chan] Passava a
mão na cabeça, nas paredes e nos
arquivos. Em seu desespero, passou sangue no rosto do agente
Sarmento, que saiu da sala", declarou Costa no depoimento.
Segundo a testemunha, Motta
chutou Chan "várias vezes e fortemente", empurrando-o para fora
da sala de disciplina, dando joelhada em seu peito e até pisando
duas vezes em sua cabeça. Chan
passou a sangrar pelos ouvidos.
Segundo o depoimento, Motta e
Valério arrastaram Chan pelos
pés até a cela de triagem. Os agentes Carlos Alberto Rodrigues e
Carlos Luiz Corrêa assistiram à
cena e nada fizeram. Ainda irritado, Motta pegou o "direitos humanos" e bateu na grade, atingindo Chan no que Costa define como "o golpe de misericórdia".
Outro lado
O criminalista Michel Assef, que
defende os seis agentes penitenciários presos, disse que o depoimento de um detento "não tem a
menor credibilidade". Para ele,
Costa está "inventando uma história para ser transferido".
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