São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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SEGUNDA MÃO

Autores do projeto, que venceram licitação da Prefeitura de SP, apontaram erros na obra; prédio é tombado

Restauração de planetário terá de ser refeita

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

A meta é restaurar o planetário do Ibirapuera, mas parte do próprio restauro é que terá de ser refeita. "Desalinhamento", "baixa qualidade" e "acabamento grosseiro" são alguns problemas citados na obra em um relatório feito pelos arquitetos responsáveis pelo projeto do restauro do planetário, desativado há cinco anos.
A reforma está sendo feita pela construtora Cyrela, numa permuta firmada com a Prefeitura de São Paulo em troca de uma dívida de R$ 3,1 milhões com o município. A empresa diz que, até agora, investiu R$ 3,5 milhões na obra.
Os problemas foram identificados em vistoria feita há um mês por técnicos do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) e os arquitetos Paulo Faccio e Luis Antonio Magnani. "Parece algo assim: faço de conta que faço bem feito e você faz de conta que fiscaliza", diz o arquiteto Pedro Dias, que, com Faccio e Magnani, forma a equipe que venceu licitação para fazer o projeto de restauro.
Anteontem, em reunião com o arquiteto Marcos Cartum, da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, foi combinada a criação da agenda de visitas à obra para verificar se as correções serão feitas.
O relatório foi enviado ao Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio histórico -o planetário é tombado tanto pelo Condephaat como pelo Conpresp (conselho municipal) e todas alterações estruturais precisam ser aprovadas pelos dois órgãos.
O principal problema, segundo Magnani, especialista em restauro, é que as telhas de alumínio que revestem a cúpula do planetário e o anel que o circunda não respeitam a geometria original. "Os gomos começaram a ser feitos de tamanhos variados, com linhas deformadas. É uma questão gravíssima pois essa geometria faz parte do conceito do prédio, que é um planetário, uma coisa que lida com geometria, matemática. Isso teria de ser feito exatamente como quando foi construído."
As pedras usadas na reforma têm formato e tonalidade diferentes das originais, criando contraste. Além disso, há irregularidades, saliências e ondulações "fora dos limites de aceitação" na caixa do elevador e na escada do mezanino, segundo o relatório.
Outros dois problemas são de alterações no projeto de restauro apresentado. A passarela técnica (onde ficarão os instrumentos de projeção), que a princípio seria oculta por placas de alumínio, foi feita com a estrutura aparente, que, segundo o relatório, tem acabamento grosseiro e causa significativa perda de qualidade.
A segunda alteração é na subestação de energia e no ar-condicionado. Segundo Faccio, no projeto, essa instalação seria subterrânea, atendendo a determinações dos dois órgãos de preservação. Mas o projeto mudou e agora os equipamentos ficarão na superfície, o que, segundo o texto, compromete o entorno do planetário e da escola de astrofísica, ao lado.
As mudanças não foram encaminhadas aos órgãos de patrimônio. O Condephaat diz estar analisando o relatório dos arquitetos e que, por isso, não iria se manifestar sobre o assunto. Segundo a assessoria da Secretaria Municipal da Cultura, o DPH encaminhará as deficiências relatadas à Cyrela.
A reforma completa, incluindo a obra e o equipamento de projeção, está avaliada em R$ 12 milhões, de acordo com a prefeitura. A meta é terminar as obras até o final de outubro, mas a inauguração não será imediata. Após o fim da intervenção, serão necessários cerca de dois meses para a instalação dos equipamentos.


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