São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 2002

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SAÚDE

Por diferenças na remuneração do SUS, instituições universitárias privilegiam internações cirúrgicas em detrimento das clínicas

Cirurgias ajudam hospitais a reforçar caixa

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Hospitais universitários estão privilegiando atendimentos que recebem mais recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) para tentar driblar a crise financeira. O problema acontece porque a tabela de pagamento do SUS varia segundo o tipo de atendimento.
No Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a política de expansão nos últimos cinco anos privilegiou o aumento do número de leitos para internação cirúrgica.
Segundo o diretor do hospital, Amâncio Carvalho, os leitos clínicos, que têm grande demanda não atendida pelo hospital, tiveram crescimento menor porque o valor pago pelo SUS é muito menor do que o custo médio para os hospitais universitários.
"Nos últimos cinco anos, passamos de uma média de mil internações diárias para 1.800. Na área cirúrgica, o crescimento foi de mais de 100%, enquanto na área clínica não passou de 50%."
Segundo Carvalho, o SUS paga cerca de R$ 2.000 no caso de intervenções cirúrgicas e R$ 400 no de clínicas. "O problema é que um paciente clínico fica, em média, 12 dias internado, enquanto o cirúrgico fica cinco dias. Muitos dos casos de internação clínica são de pacientes transplantados, com Aids, câncer ou com problemas frequentes. São casos graves, com custo muito elevado", disse.
O diretor-geral do hospital universitário da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Giovanni Loddo, diz que há um limite para que os hospitais beneficiem mais os atendimentos que geram mais recursos do SUS.
Loddo diz que o valor muito baixo pago pelo SUS para as intervenções cirúrgicas também afeta o hospital da UFPR. Ele cita o baixo valor pago por consulta (R$ 2,55) como mais um entrave para que o hospital atenda melhor a população. "Esse valor muito baixo nos impede de abrir mais espaços para consultas. Se fizermos isso, aumentamos nosso prejuízo."
Éfrem Maranhão, diretor do hospital universitário da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), afirma que a associação dos hospitais universitários quer convencer o futuro governo federal a alterar a estrutura de gestão dos hospitais."Queremos que os hospitais tenham um orçamento, que permita um melhor planejamento dos gastos", afirmou Maranhão.


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