São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Escoltado por 12 seguranças, Bem-Te-Vi foi atingido quatro vezes após tiroteio que durou cerca de 40 minutos

Polícia mata líder do tráfico da Rocinha

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O chefe do tráfico na favela da Rocinha (São Conrado, zona sul do Rio) e um dos criminosos mais procurados do Estado, Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, 29, foi morto ontem de madrugada durante tiroteio com policiais civis na própria comunidade.
Bem-Te-Vi recebeu quatro tiros e foi levado para o hospital Souza Aguiar, no centro, onde morreu. Doze seguranças armados com fuzis acompanhavam Bem-Te-Vi quando foi alvejado. No trajeto até o hospital, segundo policiais, disse: "Vou morrer, vou morrer".
O traficante estava com aparência diferente, com o cabelo pintado de louro e bem acima do peso.
Familiares queriam realizar o velório na própria comunidade, mas a polícia proibiu. O corpo deixou o Instituto Médico Legal às 15h15 rumo ao cemitério São João Batista (Botafogo, zona sul).
Ao serem informados da saída do corpo, traficantes da Rocinha dispararam fogos, tiros e jogaram granadas. Assustados, motoristas que saíam do túnel Zuzu Angel pararam o trânsito. Alguns abandonaram os carros. Ninguém ficou ferido.
No cemitério, uma advogada que não quis se identificar pagou o caixão em dinheiro vivo. Com detalhes em dourado, como as bordas e o crucifixo, o caixão custa cerca de R$ 6.000.
A mesma advogada disse que conseguira autorização judicial para que o enterro fosse realizado na manhã de hoje, mas a Justiça negou. O sepultamento aconteceu ontem mesmo, com a presença de mais de 40 policiais e cerca de 350 pessoas que chegaram da Rocinha em vans e ônibus. O nome do traficante foi gritado, mas não houve conflito com a polícia.

Operação
Para prender o traficante, os policiais alugaram uma quitinete na Rocinha para monitorá-lo. O imóvel fica em frente a uma boca-de-fumo. Por volta das 2h de ontem, os agentes viram Bem-Te-Vi se deslocando para um baile no clube Emoções escoltado por seus seguranças.
Uma hora depois, o traficante retornou para a parte alta da rua do Valão, uma das principais da Rocinha. Ali foi abordado pelos policiais. A troca de tiros durou cerca de 40 minutos. Os traficantes chegaram a atirar granadas.
Bem-Te-Vi estava armado com duas pistolas dourados e usava um bracelete de ouro. Dois dos tiros atingiram seu abdômen. Ele também foi atingido na cabeça e no pé esquerdo.
Policiais o puseram em um carro blindado e o levaram para fora da favela. Os traficantes atiraram em um transformador de energia elétrica -o que deixou a favela às escuras- e dispararam tiros em direção ao túnel Zuzu Angel, para impedir que o carro da polícia entrasse nele. O túnel foi fechado ao trânsito durante a operação.
No tiroteio, três moradores da Rocinha foram atingidos por balas perdidas. Todos estão fora de perigo. Um suposto segurança de Bem-Te-Vi, identificado como Eduardo Jorge Menezes, foi atingido e morreu.
Como luto forçado pela morte de Bem-Te-Vi, o comércio na Rocinha amanheceu fechado. A Polícia Militar mandou à favela 23 homens, mas "olheiros" dos traficantes circulavam pelas ruas e se comunicavam normalmente por radiotransmissores. Alguns chegaram, via rádio, a fazer ameaças às equipes de reportagens que estavam na Rocinha.
A investigação que resultou na operação para capturar Bem-Te-Vi foi iniciada há quatro meses pela 25ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo, zona norte).
Segundo o delegado Luiz Antônio Ferreira, o trabalho indicou que Bem-Te-Vi planejava uma invasão ao vizinho morro do Vidigal, controlado pela facção criminosa CV (Comando Vermelho), rival da ADA (Amigo dos Amigos), que domina a Rocinha.


Colaboraram SERGIO RANGEL E BRUNO GARSCHAGEN, da Sucursal do Rio


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