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Pai de viciado ajuda PF a prender traficantes
Denúncia ajudou polícia a desmantelar uma das maiores quadrilhas do país
Grupo é acusado de vender ecstasy e LSD em raves e pela internet; polícia calcula que patrimônio do grupo chegue a R$ 5 milhões
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
O desespero de um pai preocupado com o filho, que de viciado em ecstasy passou a fornecedor das festas de amigos,
levou a Polícia Federal a descobrir uma das maiores quadrilhas de vendas de drogas sintéticas do país: 12 pessoas de classe média alta foram presas ontem no Rio e Curitiba.
Entre os presos, estão um pai
e um filho: o empresário Jorge
Luiz Piraciaba, o Coroa, é acusado de usar o filho Daniel, o
Bolinha, para vender ecstasy e
LSD a amigos.
Segundo a polícia, Bolinha
entrou na quadrilha como mero fornecedor, mas com o tempo passou a ter participação
mais ativa na associação, chegando a viajar para Amsterdã
(Holanda) a mando de seu pai,
empresário e ex-diretor de uma
multinacional, diz a PF. Eles foram presos em um condomínio
de luxo na Barra da Tijuca.
A operação Tsunami (nome
dado pela PF porque a maior
parte dos presos mora próximo
à orla carioca) foi desencadeada às 5h de ontem em bairros
nobres do Rio. Mas a denúncia
do pai à PF, detalhando a rotina
do filho viciado, foi feita em junho, iniciando as investigações.
Eles são acusados de vender
drogas em raves e festas da zona sul e da Barra da Tijuca há
pelo menos três anos. Sites de
relacionamento, como o Orkut,
também eram usados. O patrimônio dos integrantes da quadrilha é calculado em R$ 5 milhões, entre imóveis e carros.
O chefe da operação, delegado Victor Cesar dos Santos, disse que foram presas pessoas
que tinham várias funções na
quadrilha: do mula (pessoa que
busca a droga) ao financiador.
Um DJ, identificado como Julinho, que atuava em festas e é
acusado de vender drogas, também está entre os presos.
Ainda há uma pessoa procurada pela polícia. Durante as
buscas, a polícia apreendeu pequena quantidade de cocaína,
maconha e ecstasy. O balanço
será divulgado hoje.
A quadrilha se abastecia em
Amsterdã e trocava cocaína por
drogas sintéticas. Da Holanda a
droga poderia passar por Paris
ou Lisboa, em direção aos aeroportos do Rio e de São Paulo. A
cocaína saía de Goiás e São Paulo, em direção à Europa.
Em setembro deste ano, a polícia prendeu Yuri Kulesza, 23,
que acabara de desembarcar no
aeroporto internacional do Rio,
com 21 mil pontos de LSD, cujo
valor é avaliado em R$ 1 milhão
- maior apreensão da droga
nos últimos dez anos. Ele faz
parte da quadrilha, também de
acordo com a PF.
Em Curitiba, a polícia prendeu o estudante André Mussi
Figueiredo, o Pulga, um dos
maiores compradores das drogas -ele chegava a vender de
2.000 a 3.000 unidades de ecstasy e LSD por semana.
A Justiça determinou, além
da prisão, o arresto dos bens
móveis e imóveis de todos os
presos. Os sigilos telefônico e
fiscal também foram quebrados por decisão judicial.
Os acusados estavam prestando depoimento ontem e a
Folha não teve acesso aos seus
advogados até o fechamento
desta edição.
Drogas sintéticas
De acordo com o delegado, a
PF tem feito muitas investigações a respeito do tráfico de
drogas sintéticas no país. O
próprio consumidor tem perfil
diferente, já que consegue pagar de R$ 50 a R$ 60 por um
comprimido de ecstasy ou um
ponto de LSD.
"É um perfil diferente de
usuário e traficante. São diferentes daqueles que usam a
droga chamada "suja", como
maconha e cocaína. O ecstasy é
chamado de droga do amor.
Ninguém sobe morro e os fornecedores não se consideram
criminosos, porque vendem
para amigos, nas festinhas de
condomínio, nos churrascos",
afirmou Santos.
No último fim de semana, 45
jovens que estavam numa rave
em Jurujuba, Niterói (a 15 km
do Rio), foram parar no posto
de atendimento médico por
consumo excessivo de drogas e
álcool. Três rapazes foram internados por suspeita de overdose. Um deles ainda está hospitalizado.
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