São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Pai de viciado ajuda PF a prender traficantes

Denúncia ajudou polícia a desmantelar uma das maiores quadrilhas do país

Grupo é acusado de vender ecstasy e LSD em raves e pela internet; polícia calcula que patrimônio do grupo chegue a R$ 5 milhões


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

O desespero de um pai preocupado com o filho, que de viciado em ecstasy passou a fornecedor das festas de amigos, levou a Polícia Federal a descobrir uma das maiores quadrilhas de vendas de drogas sintéticas do país: 12 pessoas de classe média alta foram presas ontem no Rio e Curitiba.
Entre os presos, estão um pai e um filho: o empresário Jorge Luiz Piraciaba, o Coroa, é acusado de usar o filho Daniel, o Bolinha, para vender ecstasy e LSD a amigos.
Segundo a polícia, Bolinha entrou na quadrilha como mero fornecedor, mas com o tempo passou a ter participação mais ativa na associação, chegando a viajar para Amsterdã (Holanda) a mando de seu pai, empresário e ex-diretor de uma multinacional, diz a PF. Eles foram presos em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca.
A operação Tsunami (nome dado pela PF porque a maior parte dos presos mora próximo à orla carioca) foi desencadeada às 5h de ontem em bairros nobres do Rio. Mas a denúncia do pai à PF, detalhando a rotina do filho viciado, foi feita em junho, iniciando as investigações.
Eles são acusados de vender drogas em raves e festas da zona sul e da Barra da Tijuca há pelo menos três anos. Sites de relacionamento, como o Orkut, também eram usados. O patrimônio dos integrantes da quadrilha é calculado em R$ 5 milhões, entre imóveis e carros.
O chefe da operação, delegado Victor Cesar dos Santos, disse que foram presas pessoas que tinham várias funções na quadrilha: do mula (pessoa que busca a droga) ao financiador. Um DJ, identificado como Julinho, que atuava em festas e é acusado de vender drogas, também está entre os presos.
Ainda há uma pessoa procurada pela polícia. Durante as buscas, a polícia apreendeu pequena quantidade de cocaína, maconha e ecstasy. O balanço será divulgado hoje.
A quadrilha se abastecia em Amsterdã e trocava cocaína por drogas sintéticas. Da Holanda a droga poderia passar por Paris ou Lisboa, em direção aos aeroportos do Rio e de São Paulo. A cocaína saía de Goiás e São Paulo, em direção à Europa.
Em setembro deste ano, a polícia prendeu Yuri Kulesza, 23, que acabara de desembarcar no aeroporto internacional do Rio, com 21 mil pontos de LSD, cujo valor é avaliado em R$ 1 milhão - maior apreensão da droga nos últimos dez anos. Ele faz parte da quadrilha, também de acordo com a PF.
Em Curitiba, a polícia prendeu o estudante André Mussi Figueiredo, o Pulga, um dos maiores compradores das drogas -ele chegava a vender de 2.000 a 3.000 unidades de ecstasy e LSD por semana.
A Justiça determinou, além da prisão, o arresto dos bens móveis e imóveis de todos os presos. Os sigilos telefônico e fiscal também foram quebrados por decisão judicial.
Os acusados estavam prestando depoimento ontem e a Folha não teve acesso aos seus advogados até o fechamento desta edição.

Drogas sintéticas
De acordo com o delegado, a PF tem feito muitas investigações a respeito do tráfico de drogas sintéticas no país. O próprio consumidor tem perfil diferente, já que consegue pagar de R$ 50 a R$ 60 por um comprimido de ecstasy ou um ponto de LSD.
"É um perfil diferente de usuário e traficante. São diferentes daqueles que usam a droga chamada "suja", como maconha e cocaína. O ecstasy é chamado de droga do amor. Ninguém sobe morro e os fornecedores não se consideram criminosos, porque vendem para amigos, nas festinhas de condomínio, nos churrascos", afirmou Santos.
No último fim de semana, 45 jovens que estavam numa rave em Jurujuba, Niterói (a 15 km do Rio), foram parar no posto de atendimento médico por consumo excessivo de drogas e álcool. Três rapazes foram internados por suspeita de overdose. Um deles ainda está hospitalizado.


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