São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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Polícia destruiu TVs, dizem moradores

PM e Polícia Civil afirmam que não receberam nenhuma reclamação formal na ocupação

5 famílias contaram à Folha que houve abuso nas revistas das casas durante a operação no Complexo do Alemão

ROGÉRIO PAGNAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

FABIA PRATES
DO RIO

No final de 2009, numa festa da empresa, Márcio ganhou num sorteio uma TV de LCD de 32 polegadas. Para receber o bem mais valioso da casa, sua mulher mandou pintar as paredes e comprou um móvel novo.
Ontem, ao voltar para o imóvel no Complexo do Alemão, o casal chorou ao encontrar o prêmio com a tela furada, bem no meio.
Segundo Flávia, a mulher, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado, o buraco na tela foi feito pelo fuzil de um dos policiais, conforme relatos de vizinhos.
"Eu deixei as chaves da casa com minha vizinha. Disse que era para entregar aos policiais se eles quisessem revistá-la. Coloquei até a nota fiscal na gaveta para mostrar que era tudo certinho", diz.
As polícias Militar e Civil informaram não ter recebido nenhuma reclamação formal. Ao todo, cinco famílias ouvidas pela Folha reclamaram de portas arrombadas por policiais que reviraram tudo e destruíram as TVs.
Em várias ruas e becos, viam-se ontem moradores trocando as portas quebradas na operação policial.
No domingo, o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, ordenou que seus homens revistassem todas as casas "rua por rua, beco por beco, buraco por buraco".
Por lei, a polícia pode entrar se houve flagrante ou autorização do dono da casa.
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirma que os policiais só entram em casas do Complexo do Alemão se houver consentimento dos moradores ou for situação de flagrante de algum crime.
A sede da Central Única de Favelas (Cufa) na favela da Pedra do Sapo, no complexo do Alemão, foi arrombada por policiais, diz o fundador do movimento. Celso Athayde fez a afirmação em seu Twitter e se disse dividido sobre a forma como policiais estão agindo após a ocupação do conjunto de favelas.
Moradores têm denunciado a existência de corpos na mata que divide os complexos do Alemão e da Penha. De acordo com eles, policiais impedem a entrada de famílias para procurar os corpos.
Segundo os moradores, 60 homens morreram na fuga da Vila Cruzeiro para o morro do Alemão, na tarde de quinta. A polícia conta três mortes desde quinta na operação.


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