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SAÚDE
Pelo menos 20 municípios no país participam de programa que, com parcerias, busca melhorar a qualidade de vida da população
Faculdades impulsionam "cidades saudáveis"
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma relação direta entre a
saúde das cidades e a saúde das
pessoas. E, quando um maior número de moradores participa coletivamente dos seus próprios
cuidados, as ações de saúde costumam ser mais bem sucedidas.
Esses são princípios do movimento "cidades saudáveis", organizado no Brasil há alguns anos e
que ganha agora novo impulso
com a participação de várias escolas de saúde pública.
Já há pelo menos 20 cidades
participando de alguma forma do
programa, que tem o apoio da Organização Mundial da Saúde, do
Ministério da Saúde e de fundações, como a Kellogs. No geral,
uma universidade, a prefeitura e a
comunidade firmam parceria para criar programas que melhorem
as condições de saúde e de qualidade de vida da população.
Em cidades como Anadia (AL),
a taxa de mortalidade caiu para
menos da metade em dois anos.
Em Limeira (SP), um dos bairros
mais pobres tem hoje cooperativa
de reciclagem, e os moradores fazem cursos em busca de trabalho.
Em Bertioga, litoral sul de São
Paulo, a comunidade está sendo
preparada para discutir o Plano
Diretor, instrumento que cria um
sistema de planejamento da cidade, com políticas para dez anos.
O movimento, hoje espalhado
pelos EUA e pela Europa, surgiu
no Canadá em 1984. Em São Paulo, a Faculdade de Saúde Pública
da USP começou a trabalhar neste
ano com Bertioga e já auxilia Lins
e Motuca (região central) e Ribeira e Itaóca (Vale do Ribeira).
Parcerias
A PUC de Campinas já tem parceria de dois anos com Limeira e
deve iniciar programa em Cássia
dos Coqueiros e Paranapuã. Cidades do Nordeste, como Sobral e
Crateus, adotaram a idéia. Há
uma Rede Brasileira de Municípios Saudáveis, ainda incipiente, e
a rede paulista está sendo criada.
"Como cada município tem um
perfil, o programa é diferenciado
e adaptado para cada um", afirma
a professora Maria Helena Ferreira Machado, coordenadora do
Programa Cidades Saudáveis da
PUC de Campinas.
Em Santa Catarina, uma associação de agricultores dos municípios da encosta da serra, onde
estão os mananciais que abastecem Florianópolis e região, passou a incentivar plantações sem
agrotóxicos. Moradores e autoridades do trecho mineiro do rio
São Francisco se associaram para
proteger o curso d'água e ampliar
possibilidades de trabalho.
Em Limeira, a parceria com a
PUC de Campinas começou num
dos bairros mais pobres e já está
sendo estendida para cinco outros, atingindo 20 mil pessoas. Em
mutirão, com a participação de
empresas e entidades, os moradores estão transformando um lixão
clandestino numa área de lazer.
Foi criada uma associação de
moradores, mulheres fizeram
cursos de técnicas de congelamento, e homens, de encanador,
entre outros. "A geração de empregos era uma das principais reivindicações", diz Carla Andréia
Burger Hamann, assessora técnica do Programa Limeira Saudável. Cada secretaria "emprestou"
um funcionário e cerca de 90 outros são voluntários. Mais 113 integrantes de entidades civis e anônimos estão no programa.
"Para melhorar as condições de
saúde e de qualidade de vida, não
basta apenas curar as doenças, tomar medicamento, é necessário
atuar sobre as condições sociais
que são determinantes da saúde",
afirma Rosilda Mendes, doutora
em saúde pública e pesquisadora
do Cepedoc, um centro de pesquisas e documentação em cidades saudáveis da Faculdade de
Saúde Pública da USP.
Reivindicações
Por isso mesmo, os programas
costumam começar com a identificação dos representantes locais e
o levantamento das necessidades
e reivindicações, explica Ana Maria Caricari, que dirige o Cepedoc
e está à frente de um movimento
pela ampliação da filosofia de cidades saudáveis.
Em Motuca, por exemplo, um
terço dos habitantes vive num assentamento sem áreas de lazer
nem espaços públicos. "Estamos
trabalhando com eles o conceito
de município, pois eles ainda se
colocam à parte do que é a cidade", diz Ana Caricari.
Às margens do rio Madeira está
um dos mais novos programas
por uma cidade melhor, o Manicoré Saudável. Sua economia depende de madeireiras, olarias e da
maior produção de melancias do
Amazonas -10 milhões de unidades da fruta chegam ao porto
todo ano. Um dos principais desafios do projeto será "exportar" a
carga: metade das melancias acaba apodrecendo no porto.
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