São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

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SAÚDE

Pelo menos 20 municípios no país participam de programa que, com parcerias, busca melhorar a qualidade de vida da população

Faculdades impulsionam "cidades saudáveis"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há uma relação direta entre a saúde das cidades e a saúde das pessoas. E, quando um maior número de moradores participa coletivamente dos seus próprios cuidados, as ações de saúde costumam ser mais bem sucedidas.
Esses são princípios do movimento "cidades saudáveis", organizado no Brasil há alguns anos e que ganha agora novo impulso com a participação de várias escolas de saúde pública.
Já há pelo menos 20 cidades participando de alguma forma do programa, que tem o apoio da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde e de fundações, como a Kellogs. No geral, uma universidade, a prefeitura e a comunidade firmam parceria para criar programas que melhorem as condições de saúde e de qualidade de vida da população.
Em cidades como Anadia (AL), a taxa de mortalidade caiu para menos da metade em dois anos. Em Limeira (SP), um dos bairros mais pobres tem hoje cooperativa de reciclagem, e os moradores fazem cursos em busca de trabalho.
Em Bertioga, litoral sul de São Paulo, a comunidade está sendo preparada para discutir o Plano Diretor, instrumento que cria um sistema de planejamento da cidade, com políticas para dez anos.
O movimento, hoje espalhado pelos EUA e pela Europa, surgiu no Canadá em 1984. Em São Paulo, a Faculdade de Saúde Pública da USP começou a trabalhar neste ano com Bertioga e já auxilia Lins e Motuca (região central) e Ribeira e Itaóca (Vale do Ribeira).

Parcerias
A PUC de Campinas já tem parceria de dois anos com Limeira e deve iniciar programa em Cássia dos Coqueiros e Paranapuã. Cidades do Nordeste, como Sobral e Crateus, adotaram a idéia. Há uma Rede Brasileira de Municípios Saudáveis, ainda incipiente, e a rede paulista está sendo criada. "Como cada município tem um perfil, o programa é diferenciado e adaptado para cada um", afirma a professora Maria Helena Ferreira Machado, coordenadora do Programa Cidades Saudáveis da PUC de Campinas.
Em Santa Catarina, uma associação de agricultores dos municípios da encosta da serra, onde estão os mananciais que abastecem Florianópolis e região, passou a incentivar plantações sem agrotóxicos. Moradores e autoridades do trecho mineiro do rio São Francisco se associaram para proteger o curso d'água e ampliar possibilidades de trabalho.
Em Limeira, a parceria com a PUC de Campinas começou num dos bairros mais pobres e já está sendo estendida para cinco outros, atingindo 20 mil pessoas. Em mutirão, com a participação de empresas e entidades, os moradores estão transformando um lixão clandestino numa área de lazer.
Foi criada uma associação de moradores, mulheres fizeram cursos de técnicas de congelamento, e homens, de encanador, entre outros. "A geração de empregos era uma das principais reivindicações", diz Carla Andréia Burger Hamann, assessora técnica do Programa Limeira Saudável. Cada secretaria "emprestou" um funcionário e cerca de 90 outros são voluntários. Mais 113 integrantes de entidades civis e anônimos estão no programa.
"Para melhorar as condições de saúde e de qualidade de vida, não basta apenas curar as doenças, tomar medicamento, é necessário atuar sobre as condições sociais que são determinantes da saúde", afirma Rosilda Mendes, doutora em saúde pública e pesquisadora do Cepedoc, um centro de pesquisas e documentação em cidades saudáveis da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Reivindicações
Por isso mesmo, os programas costumam começar com a identificação dos representantes locais e o levantamento das necessidades e reivindicações, explica Ana Maria Caricari, que dirige o Cepedoc e está à frente de um movimento pela ampliação da filosofia de cidades saudáveis.
Em Motuca, por exemplo, um terço dos habitantes vive num assentamento sem áreas de lazer nem espaços públicos. "Estamos trabalhando com eles o conceito de município, pois eles ainda se colocam à parte do que é a cidade", diz Ana Caricari.
Às margens do rio Madeira está um dos mais novos programas por uma cidade melhor, o Manicoré Saudável. Sua economia depende de madeireiras, olarias e da maior produção de melancias do Amazonas -10 milhões de unidades da fruta chegam ao porto todo ano. Um dos principais desafios do projeto será "exportar" a carga: metade das melancias acaba apodrecendo no porto.


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