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PM ganha até dez vezes mais com milícias
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Ao expulsarem traficantes e
criminosos de favelas do Rio de
Janeiro, os policiais da ativa
que integram as milícias não visam estabelecer a ordem na comunidade com o fim do consumo de drogas e prática de assaltos, mas, sim, obterem lucros.
Uma estimativa da prefeitura
carioca revela que os policiais
podem ganhar na milícia até
dez vezes mais do que seu salário na corporação (um soldado
da PM, por exemplo, recebe
pouco mais de R$ 700).
De acordo com a prefeitura,
umas das favelas dominadas
por estes grupos garante um lucro mensal de R$ 280 mil aos
milicianos com a cobrança de
taxas de segurança a moradores, comerciantes, motoristas
de van, mototaxistas, além da
venda de botijões de gás e a instalação de TVs a cabo clandestinas. As taxas para instalação e
uso de TV a cabo podem variar
entre R$ 30 e R$ 50 mensais.
Cada feirante têm que pagar
R$ 4 para ter barraca. Quem
vende produtos eletrônicos,
precisa desembolsar entre R$
20 e R$ 30. Dos mototaxistas,
cobram R$ 10. Por mês, cada
morador tem que pagar de R$
15 a R$ 20 por segurança.
Os comerciantes que têm loja
desembolsam R$ 50 ou até R$
100 dependendo da área. Nos
redutos das milícias, os botijões
de gás custam R$ 40 com ágio.
De olho no lucro, as milícias
querem se expandir. A mais nova conquista do grupo é a favela
Fernão Cardim, no Engenho de
Dentro (zona norte). Considerada problemática para a polícia, era a comunidade com tráfico próxima do estádio olímpico João Havelange, o Engenhão, que abrigará partidas de
futebol e provas de atletismo
dos Jogos Pan-Americanos de
2007. Além disso, fica perto do
maior centro comercial da zona
norte carioca, o Norte Shopping. A favela abrigava ainda
quadrilhas de roubos de cargas
e carros. Criminosos também
assaltavam motoristas e pedestres em ruas próximas.
Antigo reduto de traficantes
do CV (Comando Vermelho), a
Cardim foi tomada pelos milicianos no início deste mês, poucos dias após a prefeitura ter
denunciado o crescimento destes grupos pela cidade.
O número de comunidades
dominadas pelas milícias ainda
é desconhecido. Um relatório
do Gabinete Militar da prefeitura em novembro indicou que
seriam ao menos 40 favelas e
conjuntos habitacionais. A Folha apurou com policiais e moradores que já são mais de 60. A
Secretaria de Segurança Pública não tem números sobre a
atuação dos grupos. As milícias
já escolheram os próximos alvos: os morros do Adeus (Bonsucesso) e Camarista Méier
(Engenho de Dentro), ambos
na zona norte, favelas estratégicas para o tráfico.
Um grupo de milicianos chamado de "Milícia Verde" ou
"AKA", que passou a controlar
as favelas Roquete Pinto e Praia
de Ramos, em novembro, no
complexo da Maré (zona norte), já ameaça invadir outras favelas da região.
O temor de um ataque é tanto
que as quadrilhas da Nova Holanda, do CV, e no Timbau, do
TC, planejam uma fusão só para enfrentar as milícias.
Pacto entre facções
A ameaça levou os traficantes locais a adotarem uma estratégica antes impensável:
eles firmaram um pacto de não
agressão com os vizinhos e inimigos históricos de Parada de
Lucas, do TC. Além disso, não
impõem mais o terror na comunidade (punições contra
moradores que contrariam
suas regras) para mantê-la aliada e evitar o assédio da milícia.
Para antes do Pan, a milícia
quer dominar a Cidade de Deus
(Jacarepaguá, zona oeste). Segundo a prefeitura, pretende
atacar também os morros do
Dendê (Ilha do Governador) e
da Mangueira, na zona norte, e
o dos Cabritos (zona sul).
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