São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 2006

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PM ganha até dez vezes mais com milícias

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Ao expulsarem traficantes e criminosos de favelas do Rio de Janeiro, os policiais da ativa que integram as milícias não visam estabelecer a ordem na comunidade com o fim do consumo de drogas e prática de assaltos, mas, sim, obterem lucros.
Uma estimativa da prefeitura carioca revela que os policiais podem ganhar na milícia até dez vezes mais do que seu salário na corporação (um soldado da PM, por exemplo, recebe pouco mais de R$ 700).
De acordo com a prefeitura, umas das favelas dominadas por estes grupos garante um lucro mensal de R$ 280 mil aos milicianos com a cobrança de taxas de segurança a moradores, comerciantes, motoristas de van, mototaxistas, além da venda de botijões de gás e a instalação de TVs a cabo clandestinas. As taxas para instalação e uso de TV a cabo podem variar entre R$ 30 e R$ 50 mensais.
Cada feirante têm que pagar R$ 4 para ter barraca. Quem vende produtos eletrônicos, precisa desembolsar entre R$ 20 e R$ 30. Dos mototaxistas, cobram R$ 10. Por mês, cada morador tem que pagar de R$ 15 a R$ 20 por segurança.
Os comerciantes que têm loja desembolsam R$ 50 ou até R$ 100 dependendo da área. Nos redutos das milícias, os botijões de gás custam R$ 40 com ágio.
De olho no lucro, as milícias querem se expandir. A mais nova conquista do grupo é a favela Fernão Cardim, no Engenho de Dentro (zona norte). Considerada problemática para a polícia, era a comunidade com tráfico próxima do estádio olímpico João Havelange, o Engenhão, que abrigará partidas de futebol e provas de atletismo dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Além disso, fica perto do maior centro comercial da zona norte carioca, o Norte Shopping. A favela abrigava ainda quadrilhas de roubos de cargas e carros. Criminosos também assaltavam motoristas e pedestres em ruas próximas.
Antigo reduto de traficantes do CV (Comando Vermelho), a Cardim foi tomada pelos milicianos no início deste mês, poucos dias após a prefeitura ter denunciado o crescimento destes grupos pela cidade.
O número de comunidades dominadas pelas milícias ainda é desconhecido. Um relatório do Gabinete Militar da prefeitura em novembro indicou que seriam ao menos 40 favelas e conjuntos habitacionais. A Folha apurou com policiais e moradores que já são mais de 60. A Secretaria de Segurança Pública não tem números sobre a atuação dos grupos. As milícias já escolheram os próximos alvos: os morros do Adeus (Bonsucesso) e Camarista Méier (Engenho de Dentro), ambos na zona norte, favelas estratégicas para o tráfico.
Um grupo de milicianos chamado de "Milícia Verde" ou "AKA", que passou a controlar as favelas Roquete Pinto e Praia de Ramos, em novembro, no complexo da Maré (zona norte), já ameaça invadir outras favelas da região.
O temor de um ataque é tanto que as quadrilhas da Nova Holanda, do CV, e no Timbau, do TC, planejam uma fusão só para enfrentar as milícias.

Pacto entre facções
A ameaça levou os traficantes locais a adotarem uma estratégica antes impensável: eles firmaram um pacto de não agressão com os vizinhos e inimigos históricos de Parada de Lucas, do TC. Além disso, não impõem mais o terror na comunidade (punições contra moradores que contrariam suas regras) para mantê-la aliada e evitar o assédio da milícia.
Para antes do Pan, a milícia quer dominar a Cidade de Deus (Jacarepaguá, zona oeste). Segundo a prefeitura, pretende atacar também os morros do Dendê (Ilha do Governador) e da Mangueira, na zona norte, e o dos Cabritos (zona sul).


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