São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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VIOLÊNCIA
Internos de Recife serram grades, libertam companheiros e aproveitam para assassinar adolescentes de grupo rival
Garotos rebelados matam 2 colegas

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife

Dois adolescentes morreram ontem durante uma briga entre grupos rivais no Centro de Ressocialização de Adolescentes de Paratibe, um presídio da região metropolitana de Recife adaptado para receber jovens infratores.
As vítimas, R.C.M.S., 17, e G.P.S., 16, foram atingidas por golpes de estiletes e barras de ferro. Um garoto que dividia a cela com eles recebeu uma pancada na cabeça, mas passa bem.
Quatro adolescentes com idades entre 16 e 17 anos foram autuados em flagrante sob acusação de homicídio. Segundo a polícia, eles confessaram os crimes, mas, devido à idade, permanecerão detidos por no máximo três anos.
O conflito, supostamente motivado por vingança, ocorreu por volta da 1h, cerca de 30 minutos após a inspeção de rotina feita pela guarda do estabelecimento.
Os acusados teriam serrado as grades de uma das celas e arrombado outras seis para libertar os demais integrantes do grupo.
Em seguida, os adolescentes teriam incendiado seis colchões próximo à porta de acesso ao pavilhão para evitar a saída e entrada de pessoas no local.
A cela onde estavam as vítimas foi arrombada logo depois e, de acordo com os acusados, R.C.M.S. e G.P.S. ainda tentaram fugir antes de morrer.
R. teria saltado sobre os colchões em chamas, na esperança de conseguir abrir a porta isolada pelo fogo. Não conseguiu e teve 70% de seu corpo queimado.
"Ele saiu pulando, pegando fogo e acabamos de matar", disse à Agência Folha A.A.B., 16, um dos adolescentes autuados. "Demos umas cacetadas e umas furadas boas", declarou (leia abaixo).
Segundo o delegado de Apuração de Atos Infracionais, Fausto Martins, os acusados afirmaram em depoimento que mataram porque estavam sendo ameaçados pelo grupo rival.
De acordo com o delegado, foram apreendidos quatro chuchos (cabos pontiagudos), uma serra e uma barra de ferro. Apesar de reclamarem de superlotação, os acusados negam que o conflito tenha sido provocado para facilitar eventual fuga em massa.
O Centro de Ressocialização de Adolescentes de Paratibe tem capacidade para abrigar 170 jovens, mas é ocupado hoje por 258 adolescentes.
O local foi construído originalmente para servir de presídio, mas acabou sendo adaptado para receber os garotos infratores em razão da precariedade das instalações anteriores, localizadas no centro de Recife.
Desde sua inauguração, em outubro de 95, duas rebeliões e dois conflitos internos foram registrados pela Fundac (Fundação da Criança e do Adolescente), órgão que administra o centro. Um garoto foi assassinado em 1997.
Segundo a presidente da fundação, Ana Maria Lira, uma nova unidade com capacidade para 60 pessoas já está em fase de conclusão. Outras duas obras do mesmo porte estão previstas no orçamento do próximo ano.



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