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VIOLÊNCIA
Internos de Recife serram grades, libertam companheiros e aproveitam para assassinar adolescentes de grupo rival
Garotos rebelados matam 2 colegas
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife
Dois adolescentes morreram ontem durante uma briga entre grupos rivais no Centro de Ressocialização de Adolescentes de Paratibe,
um presídio da região metropolitana de Recife adaptado para receber jovens infratores.
As vítimas, R.C.M.S., 17, e
G.P.S., 16, foram atingidas por
golpes de estiletes e barras de ferro. Um garoto que dividia a cela
com eles recebeu uma pancada na
cabeça, mas passa bem.
Quatro adolescentes com idades
entre 16 e 17 anos foram autuados
em flagrante sob acusação de homicídio. Segundo a polícia, eles
confessaram os crimes, mas, devido à idade, permanecerão detidos
por no máximo três anos.
O conflito, supostamente motivado por vingança, ocorreu por
volta da 1h, cerca de 30 minutos
após a inspeção de rotina feita pela
guarda do estabelecimento.
Os acusados teriam serrado as
grades de uma das celas e arrombado outras seis para libertar os
demais integrantes do grupo.
Em seguida, os adolescentes teriam incendiado seis colchões
próximo à porta de acesso ao pavilhão para evitar a saída e entrada
de pessoas no local.
A cela onde estavam as vítimas
foi arrombada logo depois e, de
acordo com os acusados, R.C.M.S.
e G.P.S. ainda tentaram fugir antes
de morrer.
R. teria saltado sobre os colchões
em chamas, na esperança de conseguir abrir a porta isolada pelo
fogo. Não conseguiu e teve 70% de
seu corpo queimado.
"Ele saiu pulando, pegando fogo e acabamos de matar", disse à
Agência Folha A.A.B., 16, um dos
adolescentes autuados. "Demos
umas cacetadas e umas furadas
boas", declarou (leia abaixo).
Segundo o delegado de Apuração de Atos Infracionais, Fausto
Martins, os acusados afirmaram
em depoimento que mataram porque estavam sendo ameaçados pelo grupo rival.
De acordo com o delegado, foram apreendidos quatro chuchos
(cabos pontiagudos), uma serra e
uma barra de ferro. Apesar de reclamarem de superlotação, os
acusados negam que o conflito tenha sido provocado para facilitar
eventual fuga em massa.
O Centro de Ressocialização de
Adolescentes de Paratibe tem capacidade para abrigar 170 jovens,
mas é ocupado hoje por 258 adolescentes.
O local foi construído originalmente para servir de presídio, mas
acabou sendo adaptado para receber os garotos infratores em razão
da precariedade das instalações
anteriores, localizadas no centro
de Recife.
Desde sua inauguração, em outubro de 95, duas rebeliões e dois
conflitos internos foram registrados pela Fundac (Fundação da
Criança e do Adolescente), órgão
que administra o centro. Um garoto foi assassinado em 1997.
Segundo a presidente da fundação, Ana Maria Lira, uma nova
unidade com capacidade para 60
pessoas já está em fase de conclusão. Outras duas obras do mesmo
porte estão previstas no orçamento do próximo ano.
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