São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA EM DEBATE

O policiamento comunitário é uma opção eficaz para combater a violência e resgatar a imagem da polícia?

DA REPORTAGEM LOCAL

Os casos de abuso de autoridade e de corrupção envolvendo policiais contribuíram para que a imagem da polícia ficasse desgastada em muitas cidades.
O policiamento comunitário é apontado por especialistas como uma alternativa para resgatar a credibilidade da polícia.
Para abordar o assunto, a Folha ouviu a professora Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, e o pesquisador do Instituto Fernand Braudel José Peres Netto.


Folha - O policiamento comunitário é mais eficaz no combate e prevenção da criminalidade?
JULITA LEMGRUBER -
Certamente. O melhor exemplo de policiamento comunitário com bons resultados é o que acontece hoje na favela Pavão Pavãozinho Cantagalo, no Rio de Janeiro. Entre janeiro e setembro de 2000, ocorreram 14 mortes no local, não só por policiais que mataram pessoas como também em disputas de traficantes. Em setembro, foi iniciado um esquema de policiamento comunitário no local e, desde então, não houve mais mortes. Mas é preciso salientar que a polícia sozinha não resolve o problema da comunidade. É preciso haver um projeto que integre ações de organizações governamentais e não-governamentais e com uma intensa participação da comunidade.

-JOSÉ PERES NETTO - Nós fizemos um estudo comparativo no ano passado que demonstrou que, em áreas onde houve policiamento comunitário em São Paulo, houve também uma diminuição da criminalidade.


Folha - Usar policiais que moram no mesmo bairro para as rondas pode melhorar a eficácia da polícia?
JULITA -
Vai depender muito da supervisão que o policial vai ter. Se o policial conhece bem o local e já desenvolveu uma relação com aquelas pessoas, o policiamento fica mais fácil em qualquer região. Mas deve haver um treinamento melhor, não só de quem está na rua, mas de quem supervisiona o trabalho da polícia.

PERES NETTO - Os policiais que moram no bairro têm um conhecimento maior do local, mas pode acontecer, em alguns casos, de o policial não ser muito profissional, ele pode fazer seus acertos, o que não é bom. Por isso, é uma iniciativa válida, mas o policial precisa ser bastante vigiado.


Folha - O policial brasileiro está preparado para realizar um trabalho mais integrado com a comunidade?
JULITA -
Há trabalhos com sucesso, feitos com a participação de líderes quem têm clareza do papel que exercem.
O contato com a população não é um bicho-de-sete-cabeças. Mas há também um problema cultural que é uma longa história, dos policiais que chegam à favela e não respeitam quem está lá. E também dos que não podem sair de casa com o uniforme porque correm risco.
Acho que o treinamento do policial é ultrapassado, ele é mais punido por não engraxar as botas do que por agir com violência.

PERES NETTO - Se formos pensar que anos atrás tínhamos uma espécie de polícia comunitária na guarda civil que funcionava a contento, acho que há muitas condições de haver um bom contato entre polícia e comunidade.
Mas precisa haver uma liderança, o policial precisa encontrar na sua chefia o apoio necessário para isso.



Texto Anterior: Túnel é descoberto em cela de São José
Próximo Texto: Ex-garçom do Rubaiyat se entrega à polícia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.