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SEGURANÇA EM DEBATE
O policiamento comunitário é uma opção eficaz para combater a violência e resgatar a imagem da polícia?
DA REPORTAGEM LOCAL
Os casos de abuso de autoridade e de corrupção envolvendo policiais contribuíram para
que a imagem da polícia ficasse
desgastada em muitas cidades.
O policiamento comunitário
é apontado por especialistas
como uma alternativa para resgatar a credibilidade da polícia.
Para abordar o assunto, a Folha ouviu a professora Julita
Lemgruber, diretora do Centro
de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, e o pesquisador
do Instituto Fernand Braudel
José Peres Netto.
Folha - O policiamento comunitário é mais eficaz no
combate e prevenção da
criminalidade?
JULITA LEMGRUBER - Certamente. O melhor exemplo de policiamento comunitário com
bons resultados é o que acontece hoje na favela Pavão Pavãozinho Cantagalo, no Rio de Janeiro. Entre janeiro e setembro
de 2000, ocorreram 14 mortes
no local, não só por policiais
que mataram pessoas como
também em disputas de traficantes. Em setembro, foi iniciado um esquema de policiamento comunitário no local e,
desde então, não houve mais
mortes. Mas é preciso salientar
que a polícia sozinha não resolve o problema da comunidade.
É preciso haver um projeto que
integre ações de organizações
governamentais e não-governamentais e com uma intensa
participação da comunidade.
-JOSÉ PERES NETTO - Nós fizemos um estudo comparativo
no ano passado que demonstrou que, em áreas onde houve
policiamento comunitário em
São Paulo, houve também uma
diminuição da criminalidade.
Folha - Usar policiais que
moram no mesmo bairro
para as rondas pode melhorar a eficácia da polícia?
JULITA - Vai depender muito da
supervisão que o policial vai
ter. Se o policial conhece bem o
local e já desenvolveu uma relação com aquelas pessoas, o policiamento fica mais fácil em
qualquer região. Mas deve haver um treinamento melhor,
não só de quem está na rua,
mas de quem supervisiona o
trabalho da polícia.
PERES NETTO - Os policiais
que moram no bairro têm um
conhecimento maior do local,
mas pode acontecer, em alguns
casos, de o policial não ser muito profissional, ele pode fazer
seus acertos, o que não é bom.
Por isso, é uma iniciativa válida, mas o policial precisa ser
bastante vigiado.
Folha - O policial brasileiro está preparado para
realizar um trabalho mais
integrado com a comunidade?
JULITA - Há trabalhos com sucesso, feitos com a participação
de líderes quem têm clareza do
papel que exercem.
O contato com a população
não é um bicho-de-sete-cabeças. Mas há também um problema cultural que é uma longa
história, dos policiais que chegam à favela e não respeitam
quem está lá. E também dos
que não podem sair de casa
com o uniforme porque correm risco.
Acho que o treinamento do
policial é ultrapassado, ele é
mais punido por não engraxar
as botas do que por agir com
violência.
PERES NETTO - Se formos pensar que anos atrás tínhamos
uma espécie de polícia comunitária na guarda civil que funcionava a contento, acho que
há muitas condições de haver
um bom contato entre polícia e
comunidade.
Mas precisa haver uma liderança, o policial precisa encontrar na sua chefia o apoio necessário para isso.
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