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COLAPSO DA SEGURANÇA
Recursos repassados aos Estados pelo governo federal deveriam ser empregados em reaparelhamento e capacitação das polícias
Verba de segurança financia lápis e caneta
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A verba do Fundo Nacional de
Segurança Pública, que deveria financiar o reaparelhamento e a capacitação das polícias, serviu no
ano passado para suprir a "carência" em alguns Estados e chegou a
ser usada na compra de móveis,
utensílios de cozinha, lápis, caneta e até cortadores de grama. A
União também financiou a compra de produtos de limpeza.
A prestação de contas do Fundo
Nacional de Segurança Pública de
2001 -que repassou R$ 378,7 milhões- mostra que os Estados estão usando as verbas para custeio
e manutenção, o que viola a proposta. Para receber o dinheiro, os
Estados apresentaram planos de
segurança pública com estratégias e previsão de contrapartida.
"A verba do fundo é para complementar, não para substituir o
que o Estado gasta com segurança", disse o coronel Pedro Alvarenga, secretário nacional de Segurança Pública.
Mesmo assim, o governo contabilizou a compra de 15.706 itens
de manutenção de veículos.
De acordo com André Dahmer,
diretor da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), o
fundo prevê custeio de gasolina,
por exemplo, na intensificação do
policiamento em áreas críticas.
"O governo está pagando porque a carência dos Estados é muito grande. O custeio do dia-a-dia
tem de ser absorvido pelo Estado.
Realmente não é papel do governo federal fornecer o lápis", disse.
Incluindo lápis, 44.681 unidades
de "material de consumo" foram
compradas com recursos do fundo em todo o país. Na maioria dos
casos, os materiais não estão discriminados e servem, de acordo
com a Senasp, para dar o "arranque" nos novos postos policiais.
Mesmo com a possibilidade de
comprar impressoras com verbas
federais, o Rio Grande do Norte
declarou ter usado seu repasse para pagar 80 mil cópias.
A "carência" foi tão grande que
o governo federal pagou por móveis, uniformes, equipamento de
trânsito e até três unidades residenciais, no Acre. Elas seriam
usadas para incentivar o policiamento em regiões remotas.
Na prestação de contas apresentada pelo Ministério da Justiça,
cada gasto não está especificado,
mas é possível fazer estimativas.
Por exemplo, os 986.737 litros de
combustível comprados na Bahia
custaram ao governo federal cerca de R$ 1,5 milhão, usando o preço de R$ 1,55 por litro de gasolina.
A compra de itens como tatames de jiu-jítsu, no Espírito Santo, é explicada pelas especificidades dos projetos estaduais. Os tatames serão usados nas academias de polícia.
No ano passado, após a ameaça
de greve geral das polícias, o governo federal foi claro: não destinaria seus recursos para gastos de
pessoal ou aumento de salários.
Isso não impediu que alguns Estados conseguissem verbas do
fundo para pagamento de "diárias". No Piauí, isso consumiu ao
menos R$ 44 mil.
Este ano, o governo federal vai
verificar se os Estados não diminuíram seus orçamentos de segurança pública por causa das verbas federais. Caso isso tenha ocorrido, o conselho gestor do fundo
pode reduzir ou cortar o repasse.
A verba prevista no Orçamento
de 2002 para o Fundo Nacional de
Segurança Pública é 10,5% menor
do que o total executado no ano
passado. Em 2001, o governo aplicou no fundo R$ 378,7 milhões,
enquanto o previsto para este ano
é de R$ 338,6 milhões.
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