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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Em 2002, houve 610 mortos em confronto com policiais civis e militares; é o maior número na gestão tucana em SP

Mortes de civis pela polícia batem recorde

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia do governo do PSDB em São Paulo (Mário Covas e Geraldo Alckmin) nunca matou tanto como em 2002. Segundo estatística da própria Secretaria Estadual da Segurança Pública, foram 610 pessoas mortas em confronto com policiais militares e civis, uma média de 50,8 por mês.
É o maior número de civis mortos em confrontos com a polícia paulista pelos menos desde 1996, quando a estatística começou a ser realizada -em 1995, a pesquisa do governo registrou os crimes ocorridos apenas no terceiro e quarto trimestres.
As 610 mortes de civis representam uma aumento de 32,8% em relação aos números de 2001 (Alckmin assumiu em março) e de 2,5% em comparação a 2000 (gestão de Covas), que registrava o recorde anterior (veja quadro).
Em 2000, o registro de 595 mortes de civis e um levantamento da Ouvidoria das polícias Civil e Militar -que apontava que 51% das pessoas que tinham sido mortas nessa situação tinham sido baleadas pelas costas- mobilizaram o governo Mário Covas.
Um dos resultados foi a criação de uma comissão, com participação da sociedade, para avaliar a letalidade dos conflitos e discutir métodos para evitar a morte tanto da população quanto de policiais. Essa comissão foi abandonada no começo de 2002.
Com o promotor de Justiça Saulo de Castro Abreu Filho no comando da Secretaria da Segurança Pública, o ano passado foi marcado por grandes operações policiais com o objetivo de conter o aumento da violência -morte de 11 supostos membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Sorocaba, em março, por exemplo.
Para a Polícia Militar, que realiza o policiamento ostensivo e é responsável por 88,6% das mortes de civis em 2002, a explicação está no aumento da "ousadia dos bandidos" (leia texto ao lado).
Mas o resultado do crescimento da violência nos confrontos não está refletido nas estatísticas sobre as mortes de policiais -a pesquisa só inclui ações de policiais em serviço. Foram 59 mortes em 2002, uma a mais do que no ano anterior. O recorde ocorreu em 1999, com 72 policiais mortos.
Para a Ouvidoria das Polícias, o crescimento do número de civis mortos em confronto revela uma polícia violenta -o que pode se tornar uma ameaça para sociedade- e uma política de segurança pública ineficaz. A Ouvidoria realiza um levantamento próprio sobre mortes, mas inclui, ao contrário da pesquisa do governo, mortes cometidas por policiais fora de serviço.
"Se falou tanto em mudança em 2002, ano eleitoral, mas nada mudou", afirmou o ouvidor das polícias, Fermino Fecchio.
Segundo o ouvidor, a polícia continua usando a "velha explicação" de resistência seguida de morte. Ele reclama também da falta de transparência dos dados. "Está cada vez mais difícil conseguir informações. Por que esconder isso?", questionou.
Fecchio também critica a desativação da comissão que avaliava a letalidade dos confrontos. "Não estou aqui para avaliar a autoridade A ou B. Mas uma coisa é certa: não se avançou nada na relação entre cidadão e polícia e as estatísticas continuam iguais ou piores. A população ainda está esperando o "novo" que foi prometido", disse o ouvidor.

Sequestros
O Estado de São Paulo fechou 2002 com 321 sequestros registrados, 4,5% a mais do que no anterior. Mas o fechamento da estatística anual confirmou uma tendência de queda. Na comparação do primeiro trimestre de 2002, em relação ao mesmo período de 2001, o aumento era de 168%. Na relação dos primeiros semestres de cada ano, baixou para 95%. A maior queda foi registrada principalmente a partir do terceiro trimestre do ano passado.


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