São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARNAVAL
Novo profissional procura presidentes com enredo e patrocínio garantido; solução foi alternativa para Vila e Salgueiro
Escolas do Rio aderem a captador de recursos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Nos bastidores de duas das mais tradicionais escolas de samba do Rio, a Vila Isabel e o Salgueiro, circula um profissional inédito no Carnaval: o captador de recursos.
Em nome do patrocínio, essas escolas aceitaram subverter a lógica tradicional da criação do enredo, em que o carnavalesco inventa o tema, a escola aprova e busca verbas.
Com o captador de recursos, o enredo vem primeiro que a escola. O captador "vende" a idéia a um patrocinador e, com a promessa de recursos, procura uma escola que aceite levar tudo para a avenida.
O patrocínio prévio e a captação de recursos terceirizada são formas de driblar a crise que abala as escolas desde a saída de circulação de muitos bicheiros, seus grandes patronos, em meados da década.
No Salgueiro, o captador de recursos foi Luiz Fernando Abreu, produtor e carnavalesco de escolas de samba menores. Ele visitou Natal e montou o projeto de um enredo lembrando os 400 anos da cidade. Conseguiu patrocínio de R$ 300 mil, em uma parceria entre a Prefeitura de Natal e o governo do Rio Grande do Norte. Só então fechou com o Salgueiro.
Para captar recursos para a Vila Isabel, o médico e carnavalesco João Luiz de Moura nem precisou pensar em um enredo. Em uma madrugada de Carnaval do ano passado, viu uma entrevista do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena Filho (PMDB), dizendo que gostaria de ver a cidade como tema de samba-enredo.
Moura montou o projeto e conseguiu o patrocínio de R$ 360 mil da Prefeitura de João Pessoa. Procurou a Vila Isabel, que aceitou levar para o Sambódromo a homenagem à capital paraibana.
O trabalho de captação de recursos é pago com comissões que variam de 10% a 15% do valor do patrocínio. Os captadores ganham os créditos de criadores do enredo.
Para desenvolver o desfile, as escolas têm seus carnavalescos de confiança. E, embora todos neguem, há uma tensão visível entre os captadores e os executores -que desenham carros e fantasias a partir da idéia geral do enredo.
"O Carnaval de homenagens limita um pouco. Por outro lado, estimula a ser mais criativo ainda", diz o carnavalesco do Salgueiro, Mauro Quintaes.
O presidente da Vila, Olício Santos, afirma que aderiu ao captador de recursos porque a escola enfrentava dificuldades. Em 98, ficou em 12º lugar e quase foi rebaixada para o Grupo de Acesso.
"Quem tiver enredo e patrocínio fechados pode nos procurar", diz.
O presidente do Salgueiro, Paulo Mangano, quer criar na escola um departamento de marketing, para que a captação seja realizada internamente. "O patrocínio é um caminho sem volta, mas só aceitamos temas interessantes."



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.