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Professor afirma que a maior discriminação é a racial
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante anos, Angelo Barbosa
Pereira passou sem ligar diante da
Casa dos Expostos, que abriga
menores abandonados no Flamengo, Rio de Janeiro. Em abril
de 1997, ele decidiu entrar e foi
atraído por um menino negro,
franzino, debilitado e triste.
Tinha um ano e seis meses, estava ali havia quase um ano, retirado de uma mãe que vivia na rua.
Angelo, hoje com 41 anos, homossexual, é professor e tradutor
de inglês e alemão. Naquela época, não tinha companheiro, vivia
com a babá Ana Paula, que o ajudou a montar o enxoval, arrumou
o quarto e o ensinou os primeiros
cuidados com o menino.
"Quando tomei o Pedro Paulo
no colo, veio a certeza de que tudo
aquilo estava para mudar radicalmente minha vida", relata Angelo. Hoje com seis anos, o menino
faz aulas de judô, tem acompanhamento terapêutico duas vezes
por semana e faz o "jardim" no
Centro Educacional Anísio Teixeira (Ceat), em Santa Teresa.
A escola é a mesma onde estuda
Chicão, o filho de Cássia Eller e
Eugênia.
A história da adoção de Pedro
Paulo e o cotidiano de um pai solteiro com um menino que veio da
rua e não se parece com ele estão
descritos no livro "Retrato em
Branco e Preto", que Angelo Pereira lança pela Editora GLS na
Bienal do Livro de São Paulo, no
final de abril.
O livro relata vários casos de
discriminação ocorridos quando
o menino sai às ruas com o pai.
Quase todos são pelo fato de Pedro Paulo ser negro, nunca pelo
fato de o pai ser homossexual, observa o próprio Angelo.
Dentro de casa, o desafio se parece com o de qualquer outro pai,
com regras estabelecidas por um
lado, teimosia do outro e tentativas de negociação das duas partes. "Pai tem a função de ser pai, o
resto é menor", diz ele. "O filho vê
o pai sem rótulo, não importa se é
médico, borracheiro, homossexual. Se cuidar bem dele e amá-lo,
o filho vai adorá-lo."
Antes de ter coragem de entrar
na Casa dos Expostos em busca
de um filho, Angelo diz que precisou estar convencido de que sua
sexualidade não interferiria na
formação do filho. E que saberia
conduzir bem essa relação, independentemente do que os outros
viessem a dizer ou pensar.
Na noite da última quinta-feira,
Pedro Paulo, Angelo e o companheiro Marcelo escolhiam juntos
fitas de vídeo para os feriados da
Páscoa. "Sou um pai dedicado,
mas não sou melhor nem pior que
os outros pais."
A essa família veio se juntar outro personagem dois anos atrás, a
menina Cássia, 6, neta de uma
empregada que trabalhou na casa. Como não há quem cuide dela
de segunda a sexta, ela virou mais
uma da família. "Todos estamos
aprendendo", diz Angelo.
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