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SAÚDE
Triagem auditiva deve ser feita no berçário
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mikaelly, 3, só escuta sons fortes, como o barulho de um tambor. Ela nasceu com uma deficiência auditiva muito grave, que
não foi detectada na maternidade,
nem pelo pediatra que consultava
mensalmente. O problema só foi
notado pela mãe quando a menina fez um ano e não falava.
Mais um ano se passou até Mikaelly ter o problema diagnosticado e conseguir iniciar a reabilitação auditiva. Hoje, usando um
aparelho de amplificação sonora
emprestado, ela reage a estímulos
de sons e fala algumas palavras.
Começa, finalmente, a se comunicar com o mundo.
A surdez de Mikaelly é muito
mais comum do que se pensa. A
cada grupo de 1.000 bebês que
nasce no Brasil, em média 3 sofrem de deficiência auditiva. A
doença poderia ser identificada e
tratada a partir dos primeiros meses, o que aumentaria muito as
chances de reabilitação da criança, mas são poucas as maternidades brasileiras que dispõem de
equipamentos e de pessoal treinado para esse fim. Nos EUA, a triagem auditiva neonatal vem sendo
realizada desde 1990.
Em média, a idade de diagnóstico da surdez no Brasil é aos quatro anos, fase em que o desenvolvimento da fala e da linguagem já
estão seriamente prejudicados.
Por causa do seu mundo silencioso, a criança perde a fase mais importante da aquisição da linguagem e, consequentemente, terá
dificuldades de comunicação e de
se relacionar socialmente.
O ideal, segundo os fonoaudiólogos, é que toda criança, ao nascer, seja submetida a um exame
chamado Emissões Otoacústicas
Evocadas (EOA), conhecido por
"teste da orelhinha", que avalia se
o bebê apresenta perda auditiva.
Se o primeiro exame detectar a
falha, recomenda-se repeti-lo depois de alguns dias porque pode
ser que haja líquido amniótico no
ouvido do bebê, o que levará a um
resultado falso positivo.
Caso a falha persista, a criança
deve passar por um outro teste
chamado Audiometria de Tronco
Cerebral, que avalia a condução
do estímulo auditivo da porção
periférica até o tronco cerebral, e
ser avaliada clinicamente.
O médico Manoel de Nóbrega,
39, responsável pelo departamento de otorrinolaringologia da SBP
(Sociedade Brasileira de Pediatria), afirma que a detecção precoce da surdez e a intervenção adequada, até os seis meses de idade,
permitem que a criança apresente
desenvolvimento muito próximo
ao de uma outra normal.
Segundo a fonoaudióloga Altair
Pupo, mais conhecida por Lila, diretora da Faculdade de Fonoaudiologia da PUC-SP (Pontifícia
Universidade Católica), ao ser
confirmada a deficiência, a criança deve usar imediatamente um
aparelho de amplificação sonora.
O acompanhamento de um fonoaudiólogo, que fará a adaptação desse aparelho e ensinará a
criança a reconhecer os sons e a
integrá-los ao cotidiano, é fundamental, afirma Lila. A PUC mantém um serviço chamado Derdic
(Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação), que faz o diagnóstico e o
acompanhamento audioeducacional das crianças.
Para a fonoaudióloga Beatriz
Mendes, também é essencial um
trabalho de suporte emocional
aos pais das crianças surdas.
"Ninguém está preparado para
aceitar que aquele bebê lindo, rosadinho, não escuta", afirma.
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