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Após motim, governo cede, faz acordo e controladores de vôo encerram a greve
Operadores conseguem a abertura de negociação sobre reajuste e desmilitarização e promessa de que não haverá punições
Protesto provocou filas e irritação nos aeroportos; no Rio, um passageiro chegou a dar um soco no olho de uma funcionária da BRA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os controladores de vôo se
amotinaram ontem, paralisando o espaço aéreo brasileiro e
obrigando o governo federal a
ceder a suas exigências por escrito para voltar ao trabalho.
O motim, iniciado no Cindacta-1, em Brasília, durou cinco horas e 20 minutos, espalhando-se pelo país e suspendendo praticamente todas as
decolagens no país.
Pego de surpresa, o governo
formou um gabinete de crise e
se reuniu por telefone com o
presidente Lula -que estava
em vôo para Washington e vetou decisão da Aeronáutica de
prender os sargentos amotinados. O presidente interino, José Alencar, foi chamado de Minas Gerais para coordenar a
crise em Brasília.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) e a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, foram negociar pessoalmente com os controladores no Cindacta-1 às 22h30.
Uma hora e meia depois, os
dois assinaram um compromisso no qual o governo promete rever punições já aplicadas e não realizar retaliações
pelo motim de ontem.
Além disso se comprometem
a retomar na terça-feira, 3 de
abril, duas negociações: a de
uma "solução civil" para o setor
e a gratificação salarial.
"Ele [Lula] determinou o seguinte: "Nós estamos com um
gravíssimo problema que afeta
a segurança nacional. O essencial é voltar à normalidade". Para tanto, abrimos uma negociação", disse o ministro Franklin
Martins (Comunicação Social),
confirmando o acordo.
E reduziu os efeitos da exclusão do brigadeiro Juniti Saito,
comandante da Aeronáutica,
das negociações -exigência
dos próprios controladores.
"Ele não foi desautorizado",
disse Martins.
As decolagens seriam retomadas na madrugada, gradualmente, e são esperados muitos
atrasos neste fim de semana,
até a normalização do fluxo.
Motim
O motim praticamente congelou o espaço aéreo brasileiro.
Em São Paulo, por exemplo,
entre 18h55 e 0h30, houve 108
cancelamentos (entre pousos e
decolagens) e só 19 decolagens
(para o Sul e Rio).
Houve confusão em vários
aeroportos -no Rio uma funcionária da BRA chegou a ser
agredida com um soco.
Em decorrência do fechamento do espaço aéreo, várias
companhias internacionais
cancelaram vôos para o Brasil e
até mesmo para a Argentina (já
que teriam de passar pelo espaço aéreo brasileiro).
De um modo geral, apenas os
aviões que já estavam em rota
eram controlados até seu destino final. Novas decolagens só
eram autorizadas para emergências (transporte de órgãos,
doentes, ambulâncias aéreas)
ou missões (vôos de autoridades ou de operações militares).
Os controladores se recusaram a falar com oficiais militares e vetaram o até então aliado
Waldir Pires (Defesa).
O estopim do protesto foi a
transferência do sargento
Edleuzo Cavalcanti do Cindacta-1 para um pequeno destacamento em Santa Maria (Rio
Grande do Sul) -havia temor
de mais transferências ou prisões. Ele é diretor de mobilização da Associação Brasileira de
Controladores de Tráfego Aéreo e foi um dos alvos do Inquérito Policial Militar que apurou
a operação-padrão de 2006.
A data coincide com os seis
meses do acidente do vôo 1907
da Gol, que deflagrou a crise.
O país tem cerca de 2.300
controladores civis e militares
vinculados à Aeronáutica e que
atuam em torres de aeroporto,
área de aproximação e controle
de área (as três divisões do tráfego), além da Defesa Aérea.
Cerca de 80% do total é militar e são proibidos pela Constituição de realizar greve. O protesto começou durante o dia
como aquartelamento voluntário e greve de fome e a paralisação começou de fato às 18h40
no Cindacta-1 em Brasília, centro responsável pelo Centro-Oeste e Sudeste, ou quase 75%
do tráfego aéreo nacional.
Apenas esse centro parado
engessa o tráfego nacional. O
Cindacta-4, em Manaus, aderiu
depois e, em seguida, o Cindacta-2 (Curitiba) se uniu ao motim. O status do Cindacta-3
(Recife) permanecia incerto.
Em Brasília, mais de 200 sargentos estavam amotinados
dentro e nos cômodos em volta
da sala de controle principal.
Antes de iniciar as negociações com Paulo Bernardo, houve dois momentos de tensão.
Primeiro, Saito sugeriu dar voz
de prisão aos amotinados, e a
notícia se espalhou. Lula vetou,
falando do avião presidencial.
Em outro momento, a FAB
tentou resolver a questão internamente. O chefe do Cindacta-1, coronel Carlos Vuyk de Aquino, chamou um grupo de 16
controladores mais antigos para conversar. Porém o grupo rejeitou a iniciativa.
O protesto começou no início
do dia, com a circulação de um
manifesto anunciando a intenção de aquartelamento voluntário e uma greve de fome. Quatro reivindicações foram listadas: fim das retaliações, gratificação salarial, desmilitarização
do setor e a participação de
controladores numa comissão
para acompanhar o processo.
Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de
Brasília
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