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Escolas próximas têm médias distantes
Estudo mostra que, em um mesmo distrito, há colégios municipais entre os melhores e os piores de São Paulo na Prova Brasil
Levantamento feito pela Secretaria da Educação mostra também que piores desempenhos estão nos extremos leste, sul e norte
ANTÔNIO GOIS
EM SÃO PAULO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
As escolas municipais Plínio
Salgado e Ayrton Oliveira Sampaio em quase tudo se parecem.
Ficam no mesmo distrito do
Grajaú (zona sul de São Paulo),
atendem ao mesmo perfil de
aluno (de um bairro carente),
recebem igual volume de recursos por estudante e, por fazerem parte da mesma rede de
ensino, não há diferença no salário de seus professores.
Elas são até relativamente
próximas, separadas por não
mais do que 10 km de distância.
O abismo que as separa em termos de desempenho, no entanto, é imenso.
A Plínio Salgado foi, nas provas de oitava série, a 14ª melhor
escola municipal de São Paulo.
Já a Ayrton Oliveira está no outro extremo: teve a sétima menor média.
Casos como esses são menos
raros do que se pensa e podem
ser constatados num estudo da
Secretaria Municipal de Educação sobre o desempenho das
escolas municipais paulistanas
na Prova Brasil. Esse é um exame do Ministério da Educação
que avalia a qualidade da educação na rede pública e que permite a comparação das notas
por estabelecimento de ensino.
Nas provas de quarta série,
essa situação -regiões que têm
escolas próximas tanto entre as
melhores quanto entre as piores- se repete em oito distritos. Na oitava série, em dez.
Além de apontar casos como
esses, o estudo mostra que há
uma concentração das melhores escolas nas áreas centrais
da cidade, ao passo que os extremos sul (próximo a Parelheiros), leste (a partir de Itaquera) e norte (de Anhangüera
ao Tremembé), além de áreas
próximas ao Morumbi, concentram os piores resultados.
Para chegar a essa conclusão,
foram comparadas notas de todas as escolas municipais em
que pelo menos metade dos
alunos participaram da Prova
Brasil.
A partir daí, foram identificadas as 50 melhores e as 50 piores escolas nas provas de português e matemática.
A diferença entre a melhor e
a pior na quarta série é de 95
pontos. Na escala da Prova Brasil é uma enormidade. Ela varia
de 0 a 500, mas o máximo esperado para um aluno dessa série
são 300 pontos. Na oitava série,
a diferença é de 88 pontos.
Hipóteses
O secretário municipal de
Educação, Alexandre Schneider, afirma que o objetivo do
estudo não é estigmatizar as
piores escolas, mas saber por
que, nas mesmas condições, algumas se saem melhor.
"Dizer que determinada escola é muito ruim não adianta
nada, mas é importante identificar aquelas de pior desempenho para fazer intervenções
que as ajudem a melhorar", diz.
Schneider conta que a secretaria trabalha com algumas pistas para explicar as diferenças.
Entre as hipóteses a serem investigadas estão o tempo em
que os professores lecionam
naquela instituição, a participação dos pais e as condições físicas, entre outras questões.
Para o secretário, uma das razões que mais se sobressaem é a
estabilidade do corpo pedagógico, tanto que a secretaria estuda mudar o mecanismo de
gratificação por desempenho.
"Hoje, esse benefício não leva em conta questões como a
assiduidade ou o tempo de permanência do professor numa
escola. Em muitos casos, o que
ele mais quer é se transferir de
lá. Nossa idéia é estimular a
permanência dele levando em
conta esse critério no pagamento da gratificação", diz.
O presidente do Sindicato
dos Profissionais em Educação
no Ensino Municipal de São
Paulo, Claudio Fonseca, afirma
que a estabilidade do corpo de
docentes facilita a aplicação de
políticas pedagógicas na escola.
Ele pondera, no entanto, que é
preciso levar em conta a realidade de cada escola.
"Às vezes, você não consegue
reter uma boa equipe na escola
porque ela está em local com alto grau de violência e de desestruturação social. O professor
tem medo de trabalhar ali", diz
o presidente do sindicato.
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