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DIREITOS HUMANOS
Entidade aponta deterioração das cadeias e acusa o governo de não agir contra esse tipo de crime
Anistia vê aumento de tortura em prisões
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Anistia Internacional aponta
uma piora na situação das prisões
brasileiras no ano passado em relação a 1999. O principal indicador da "deterioração" é o aumento dos casos de tortura nas cadeias, citados em relatório divulgado ontem pela entidade.
A Anistia não tem estatísticas,
mas um único caso seria suficiente para sinalizar o aumento da
violação dos direitos humanos,
segundo Alexandre Guedes, presidente da seção brasileira: os casos de tortura em massa na ala feminina do Cadeião de Pinheiros,
na cidade de São Paulo.
Das 675 presas de lá, 70% foram
torturadas em 22 de abril deste
ano por policiais do GOE (Grupo
de Operações Especiais), de acordo com Isabel Peres, coordenadora-geral da Acat (Ação dos Cristãos para Abolição da Tortura).
O GOE, grupo considerado de
elite na Polícia Civil, fora chamado para conter uma manifestação.
"Quando consegui entrar no
presídio, vi o inferno na Terra",
diz Isabel. "Tinha presa com a
ponta do dedo decepado, com estilhaço de bala no olho, com a cabeça rachada. Vi grávidas que receberam chutes na barriga, vi presas abortando e tuberculosas escarrando sangue."
A Secretaria da Segurança Pública foi informada, mas nenhum
policial foi afastado até agora.
O cenário dantesco não é exclusividade do Cadeião de Pinheiros,
segundo o presidente da Anistia
Internacional no Brasil.
Só neste ano foram encaminhados ao Ministério da Justiça relatos sobre casos de tortura na Cadeia Pública de Americana, em
penitenciárias de Avaré e de Presidente Venceslau e em uma delegacia de Carapicuíba, todas no Estado de São Paulo.
Ninguém foi punido até agora.
Pesquisa feita pelo Fórum Nacional de Procuradores de Justiça, divulgada ontem pela Anistia Internacional, mostra que a impunidade é a regra no caso de tortura.
Ninguém foi condenado entre
abril de 1997, quando a tortura
passou a ser considerada crime
no Brasil, e dezembro de 2000.
Nesse período, os procuradores
registraram 258 casos de tortura
no país, 56 dos quais foram investigados pela polícia. Desses, só 16
foram julgados e houve uma única condenação. Ocorreu na Bahia,
mas não foi por tortura -foi por
omissão, segundo Guedes.
A impunidade virou regra no
crime de tortura porque, na maioria dos casos, são os próprios policiais que investigam policiais acusados por esse tipo de violência,
na avaliação da Anistia.
A melhor maneira de acabar
com a impunidade, de acordo
com o presidente da Anistia, é colocar o crime de tortura sob a esfera do governo federal, e não dos
Estados, como ocorre.
Ele culpa o governo federal pela
impunidade porque o presidente
Fernando Henrique Cardoso tem
maioria no Congresso e, na sua visão, não fez nada para aprovar
projeto de lei que transfere para a
alçada federal o crime de tortura,
apresentado há dois anos.
O Judiciário também colabora
com a impunidade, segundo a
Anistia, ao tipificar como crime
de lesões corporais casos evidentes de tortura. A pena mais leve
para lesões corporais só reforça a
impunidade, diz Guedes.
O relatório sobre o ano 2000, divulgado ontem em todo o mundo
na comemoração dos 40 anos da
Anistia, diz que, no Brasil, "a tortura e os maus-tratos foram utilizados rotineiramente tanto pela
Polícia Militar, durante as detenções, quanto pela Polícia Civil, nas
delegacias superlotadas".
São citados casos de assassinatos praticados por policiais, a ação
de esquadrões da morte em pelo
menos sete Estados, a violência
contra índios e ativistas do direito
à terra, os maus-tratos frequentes
na Febem e a prática de tortura
contra presos em Sorocaba (SP).
A Folha, a TV Cultura, o "Diário
Popular" e a Rádio Eldorado receberam um prêmio da Anistia Internacional pelas reportagens em
defesa dos direitos humanos.
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