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CRIME ORGANIZADO
Segundo ex-líder, grupo que assumiu comando após a megarrebelião do ano passado quis demonstrar força
Ala radical do PCC planejou atentados em SP
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A vitória da ala de comando radical do PCC (Primeiro Comando
da Capital), em uma disputa que
contrapôs seus fundadores após a
megarrebelião do ano passado,
foi decisiva para os atentados que
feriram 16 e mataram quatro pessoas em São Paulo neste ano.
As explosões de bombas em fóruns e prédios públicos, mais os
atentados a tiros, fizeram parte de
um plano para desacreditar o governo e provocar medo entre os
encarcerados -de onde saem os
"soldados" do PCC e as vítimas de
extorsões, que pagam "pedágio" e
alimentam o caixa dos líderes.
Os detalhes sobre o planejamento dos atentados e sobre o
funcionamento da organização
começam a ser conhecidos agora,
após 460 horas de conversas telefônicas gravadas e dos depoimentos de ex-líderes jurados de morte
e dos membros da cúpula radical.
As revelações ajudaram a polícia e o Ministério Público de São
Paulo a executar na semana passada, após cinco meses de investigação, a maior ofensiva contra a
facção, desde sua criação (1993).
"O que mais nos impressionou
foi o poder de organização", disse
o promotor Roberto Porto, do
Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado).
A facção reúne presos de diferentes penitenciárias, que se falam por intermédio de advogados
e telefones celulares.
Em depoimento filmado no final de março deste ano, ao qual a
Folha teve acesso, um ex-líder do
PCC revelou informações sobre
quatro atentados que a cúpula da
facção cogitou cometer.
Primeiro, queriam assassinar
três jornalistas -da Rede Globo,
da Record e do SBT. "Para que a
imprensa ficasse contra o governo", disse o detento D. S. (iniciais
fictícias), cuja identidade não pode ser revelada. Ele está isolado
para não ser morto.
O segundo plano era atacar uma
embaixada, em Brasília, para chamar a atenção do governo federal.
Também houve discussões sobre
atentados contra pessoas ligadas
ao governo estadual.
Por fim, queriam transformar
viciados em drogas -"nóias", segundo a gíria da ruas- em "homens-bomba", para ataques em
locais públicos. "O nóia ia morrer
pela droga, mesmo. Ia morrer por
uma causa", disse o detento.
"Cogitaram fazer os ataques,
mas não chegaram a planejar",
afirmou o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco.
O Ministério Público acredita
que o atentado de 11 de setembro,
em Nova Iorque, influenciou o
PCC. Nas conversas telefônicas
gravadas, Osama Bin Laden, líder
da Al Qaeda, virou gíria para designar quem faria os ataques.
No total, houve 14 atentados em
São Paulo neste ano, sem reivindicações específicas. A nova estratégia surgiu após uma sucessão de
disputas internas no comando.
O ex-líder D. S. ganhou poder
após a decadência do grupo ligado a Idemir Carlos Ambrósio, o
Sombra, líder da megarrebelião.
Foi a maior demonstração de força do PCC, mas parte dos fundadores da facção achou que houve
mais desgaste do que vantagens.
O grupo ao qual D. S. fazia parte
teria passado a defender um período de paz, ao suspender assassinatos e rebeliões, como divulgaram em manifesto uma semana
depois da megarrebelião.
A facção, na época, anunciou
que passaria a cobrar promessas
de investimentos em presídios e
melhoria no treinamento de funcionários, entre outros pontos.
Internamente, os líderes defendiam um curso de três meses para
os iniciantes (batismo), para difundir o estatuto do PCC como
regra de conduta.
Não deu certo. Ao tentar suspender "rebeldes" que descumpriam o estatuto, os líderes contrariaram os fundadores José
Márcio Felício, o Geleião, e César
Augusto Roris da Silva, o Cesinha,
da ala radical, que voltavam a São
Paulo depois de um "exílio" desde
1997. Ambos receberiam dinheiro
dos rebeldes, segundo D. S.
Misael Aparecido da Silva, o Misa, único fundador que se contrapunha aos radicais, acabou assassinado em janeiro.
Segundo D. S., Geleião passou a
defender o terrorismo para mostrar força e garantir o pagamento
do "pedágio" cobrado das quadrilhas em liberdade. O PCC recebe para não matar os criminosos
quando eles são presos.
Geleião e Cesinha, disse D. S., limitaram a três pessoas no Estado
quem poderia falar pela facção.
"Se sair, você é morto", afirmou o
depoente. Agora, os dois ficarão
isolados por um ano, com outros
oito líderes, na prisão de Presidente Bernardes (589 km da capital), a única com bloqueador de
celular no país. Os dez serão responsabilizados pelos atentados.
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