São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Em Campinas, assaltantes roubam passageiros, motorista e cobrador; na hora do crime, polícia fazia megablitz

Sem dinheiro, três são mortos em ônibus

CLAUDIO LIZA JUNIOR
LÍVIA STÁBILE

FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

Na mesma noite em que ocorria uma megablitz das polícias Civil e Militar em Campinas (95 km de São Paulo), com 800 homens nas ruas, três pessoas foram assassinadas, uma ferida e outras 12 mantidas reféns dentro de um ônibus urbano. As três -um estudante, uma empregada doméstica e um jardineiro- morreram porque, de acordo com a polícia, estavam sem dinheiro.
O crime, que ocorreu por volta das 20h30 de anteontem, chocou a população e provocou o protesto das empresas de ônibus.
A polícia apenas lamentou as mortes. "Fizemos um bom trabalho, a noite foi relativamente tranquila, mas, infelizmente, uma tragédia dessa veio macular a blitz da polícia", disse o tenente-coronel Osmar Sabbatini, comandante do 8º Batalhão da PM de Campinas.
O crime ocorreu no ônibus da linha 1.04, que faz o trajeto Centro-Nova Sousas. Os passageiros foram mortos a 300 metros da avenida Mackenzie, onde o prefeito Antonio da Costa Santos (PT) foi assassinado a tiros, na noite de 10 de setembro de 2001.
Os passageiros mortos foram o estudante Felipe Lantucci Oliveira, 17, a doméstica Alda Nascimento Santos, 40, e o jardineiro Nailton Nere dos Santos, 40. M.A.S.P. foi baleado na perna, mas já foi medicado e liberado.
"Foi uma chacina. Campinas hoje é uma cidade maldita", disse, revoltado, o tio do estudante, Antônio Lantucci, 67, ontem, durante o velório do sobrinho.
Em depoimento à polícia, o motorista do ônibus, J.C., disse que os homens entraram no coletivo no ponto do shopping Ventura Mall, em Nova Campinas.
Segundo a polícia, eles assaltaram dez passageiros, o motorista e o cobrador, colocaram um revólver na barriga de J.C. e o obrigaram a desviar de sua rota até a avenida Mackenzie, na Vila Brandina, em direção à rodovia Dom Pedro. "Ninguém reagiu", disse o motorista, no depoimento.
Os assaltantes, ainda de acordo com a polícia, teriam atirado contra os passageiros que estavam sem dinheiro ao sair do ônibus. Os ladrões fugiram a pé.
A notícia chegou à polícia durante a megablitz. Cinco carros da Força Tática fizeram uma busca em bairros próximos, mas os assaltantes não foram encontrados.
O jardineiro Nailton e o estudante Felipe foram velados no cemitério de Sousas. Felipe estava no último ano do curso de técnicas de telecomunicações na Escola Técnica Bento Quirino. Ele trabalhava em uma empresa de manutenção de impressoras.
O pai do rapaz, Daniel Inocêncio de Oliveira, 49, disse que "ele era um garoto trabalhador".
De acordo com o avô do estudante, Reinaldo Landucci, 72, o neto prestaria vestibular para computação no final do ano.
"Ele chegou ao colégio e foi dispensado. A maioria dos alunos faltou. Se tivesse havido aula, hoje ele estaria vivo."
Nailton Nere dos Santos voltava para casa do supletivo, quando foi morto. "Ele era um batalhador. Estava estudando. Queria aprender a ler", disse a irmã do jardineiro, Cirlene Nere dos Santos, 24.
Os familiares de Alda Nascimento Santos disseram que não tinham condições emocionais de falar sobre o crime.

Números
O tenente-coronel Osmar Sabbatini afirmou que a polícia estadual está fazendo a "sua parte" na briga contra a violência. Segundo ele, a PM já reduziu em 50% o número de assaltos em coletivos no período de um ano. Na megablitz da polícia, foram apreendidos 22 carros, quatro armas e 600 papelotes de cocaína. Vinte e duas pessoas foram presas. Nove são fugitivas de presídios.
"Esse é um problema para nós. Prendemos muitos reincidentes porque há brechas na legislação. O criminoso volta muito rápido às ruas", afirmou Sabbatini.


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