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VIOLÊNCIA
Em Campinas, assaltantes roubam passageiros, motorista e cobrador; na hora do crime, polícia fazia megablitz
Sem dinheiro, três são mortos em ônibus
CLAUDIO LIZA JUNIOR
LÍVIA STÁBILE
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
Na mesma noite em que ocorria
uma megablitz das polícias Civil e
Militar em Campinas (95 km de
São Paulo), com 800 homens nas
ruas, três pessoas foram assassinadas, uma ferida e outras 12
mantidas reféns dentro de um
ônibus urbano. As três -um estudante, uma empregada doméstica e um jardineiro- morreram
porque, de acordo com a polícia,
estavam sem dinheiro.
O crime, que ocorreu por volta
das 20h30 de anteontem, chocou
a população e provocou o protesto das empresas de ônibus.
A polícia apenas lamentou as
mortes. "Fizemos um bom trabalho, a noite foi relativamente tranquila, mas, infelizmente, uma tragédia dessa veio macular a blitz da
polícia", disse o tenente-coronel
Osmar Sabbatini, comandante do
8º Batalhão da PM de Campinas.
O crime ocorreu no ônibus da
linha 1.04, que faz o trajeto Centro-Nova Sousas. Os passageiros
foram mortos a 300 metros da
avenida Mackenzie, onde o prefeito Antonio da Costa Santos
(PT) foi assassinado a tiros, na
noite de 10 de setembro de 2001.
Os passageiros mortos foram o
estudante Felipe Lantucci Oliveira, 17, a doméstica Alda Nascimento Santos, 40, e o jardineiro
Nailton Nere dos Santos, 40.
M.A.S.P. foi baleado na perna,
mas já foi medicado e liberado.
"Foi uma chacina. Campinas
hoje é uma cidade maldita", disse,
revoltado, o tio do estudante, Antônio Lantucci, 67, ontem, durante o velório do sobrinho.
Em depoimento à polícia, o motorista do ônibus, J.C., disse que
os homens entraram no coletivo
no ponto do shopping Ventura
Mall, em Nova Campinas.
Segundo a polícia, eles assaltaram dez passageiros, o motorista
e o cobrador, colocaram um revólver na barriga de J.C. e o obrigaram a desviar de sua rota até a
avenida Mackenzie, na Vila Brandina, em direção à rodovia Dom
Pedro. "Ninguém reagiu", disse o
motorista, no depoimento.
Os assaltantes, ainda de acordo
com a polícia, teriam atirado contra os passageiros que estavam
sem dinheiro ao sair do ônibus.
Os ladrões fugiram a pé.
A notícia chegou à polícia durante a megablitz. Cinco carros da
Força Tática fizeram uma busca
em bairros próximos, mas os assaltantes não foram encontrados.
O jardineiro Nailton e o estudante Felipe foram velados no cemitério de Sousas. Felipe estava
no último ano do curso de técnicas de telecomunicações na Escola Técnica Bento Quirino. Ele trabalhava em uma empresa de manutenção de impressoras.
O pai do rapaz, Daniel Inocêncio de Oliveira, 49, disse que "ele
era um garoto trabalhador".
De acordo com o avô do estudante, Reinaldo Landucci, 72, o
neto prestaria vestibular para
computação no final do ano.
"Ele chegou ao colégio e foi dispensado. A maioria dos alunos
faltou. Se tivesse havido aula, hoje
ele estaria vivo."
Nailton Nere dos Santos voltava
para casa do supletivo, quando foi
morto. "Ele era um batalhador.
Estava estudando. Queria aprender a ler", disse a irmã do jardineiro, Cirlene Nere dos Santos, 24.
Os familiares de Alda Nascimento Santos disseram que não
tinham condições emocionais de
falar sobre o crime.
Números
O tenente-coronel Osmar Sabbatini afirmou que a polícia estadual está fazendo a "sua parte" na briga contra a violência. Segundo
ele, a PM já reduziu em 50% o número de assaltos em coletivos no
período de um ano. Na megablitz
da polícia, foram apreendidos 22
carros, quatro armas e 600 papelotes de cocaína. Vinte e duas pessoas foram presas. Nove são fugitivas de presídios.
"Esse é um problema para nós.
Prendemos muitos reincidentes
porque há brechas na legislação.
O criminoso volta muito rápido
às ruas", afirmou Sabbatini.
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