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SEGURANÇA PÚBLICA
Na periferia de São Paulo, fornecedores de armas ganham em cima de crimes cometidos por outras pessoas
Revólver alugado é usado para matar 3
DA REPORTAGEM LOCAL
Um revólver alugado por R$ 50
serviu para assassinar três pessoas
em um mesmo final de semana
em São Paulo. O esquema recém-descoberto pela polícia mostra
que os fornecedores diversificaram e estão ganhando em cima de
crimes que outros cometem.
As duas primeiras vítimas foram os frentistas Ademário Brito
Trápia, 40, e o vigia Nivaldo Amaro de Oliveira, 43, surpreendidos
por um assaltante dia 17 de junho
em um posto na região do Ipiranga (zona sudeste).
Dois dias após, a mesma arma
foi usada contra a pediatra Natália
Rodrigues Garcia, abordada pelo
mesmo assaltante em um semáforo na periferia da capital.
""Após a fita (crime), o revólver
era entregue de volta para Flávio
(o dono da arma) e o pagamento
girava em torno de R$ 40 a R$ 50",
consta do depoimento que Wellington Rufino de Matos, 18, acusado de participar dos dois assaltos, deu à polícia após ser preso.
"Dedo mole"
Flávio, segundo a polícia, trabalhava como perueiro e está foragido. Além do revólver, ele teria em
casa uma pistola.
O suposto autor dos disparos,
Willian da Silva Félix, 33, conhecido como Lia, nem chegou a ser
preso. Morreu assassinado a tiros
no último dia 7.
""Lia é dedo mole, principalmente se tiver com algumas pingas na cabeça", disse o gráfico
Paulo Henrique Brasilino Furtado, 28, que está preso devido à
participação no assalto, em depoimento à polícia.
O revólver usado nos dois assassinatos não foi encontrado. Segundo a polícia, as vítimas não
reagiram ao assalto.
Pesquisa
A Folha encontrou armas a serem alugadas na periferia da cidade de São Paulo. Um revólver oferecido à reportagem em um dia,
no outro estava servindo para cobrar uma dívida.
""O cara vai usar para cobrar
uma grana, depois me devolve e
você pode passar para pegar", explicou o rapaz.
Durante uma semana, a Folha
visitou locais de São Paulo onde é
possível comprar armas.
Revólver calibre 38 cano curto
novo, parecido com o que a Polícia Militar usa, custa R$ 300.
Uma pistola calibre 380, que
tem maior poder de destruição,
sai por R$ 500. Uma submetralhadora, 80 tiros, custa entre R$ 1.500
e R$ 2.000.
A lista de preços do mercado informal é menos que a metade das
lojas especializadas.
A principal diferença entre pistola e revólver, além do poder de
provocar ferimento mais grave, é
a capacidade de munição.
O revólver leva de cinco a sete
cartuchos, enquanto as pistolas
podem ter no pente ate 15 balas.
Entrega
A entrega é na hora ou sob encomendada, dependendo da complexidade do pedido. A submetralhadora vem do Paraguai e o restante das armas está no bairro
mesmo, espalhado por várias casas de conhecidos.
As informação foram passadas
por um rapaz de 19 anos, um dos
""soldados" de quadrilha de assaltantes instalada na periferia da capital. São os mais antigos no crime que abastecem esse mercado
paralelo de armas.
""Agora está mais embaçado arrumar quadrada (pistola). Quem
tem está segurando, achando que
vai ficar mais difícil e caro, mas dá
para arrumar uma."
E munição? ""É com a gente
mesmo, pode pedir. Quanto vai
querer levar?"
Mobilete
Durante as visitas, a Folha conheceu André (nome fictício), 18,
ex-interno da Febem (Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor) e que já foi ferido em tiroteio
com a polícia.
Aos 16 anos, ele diz ter trocado a
mobilete que tinha por um revólver calibre 38.
Um ano depois, estava escondendo uma submetralhadora dos
pais dentro do próprio guarda-roupa e arrumava carros para assaltantes de banco.
""O ladrão pedia moto ou carro e
eu trazia à noite mesmo", afirmou
André.
(ALESSANDRO SILVA)
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