São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Policial que investigou colegas sofreu ameaça

Caso ocorreu em maio, quando a delegada apurava o desvio de 327,5 kg de cocaína no Denarc, o departamento de narcóticos

Alexandra da Silveira foi afastada da corregedoria após concluir inquérito sobre grupo acusado de usar estrutura da polícia para falsificar CNHs


ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A delegada Alexandra de Agostini Randmer da Silveira, 37, afastada da Corregedoria da Polícia Civil anteontem pelo chefe da corporação, Maurício José Lemos Freire, sofreu ameaças quando investigava, em maio, um grupo de policiais suspeitos de desviar 327,5 kg de cocaína do Denarc (departamento de narcóticos). Alexandra foi também a responsável pela investigação da máfia das CNHs de Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo).
Um inquérito está andamento no 89º DP (Portal do Morumbi) para apurar quem são os responsáveis pela ameaça, feita por telefone na residência da policial, que está há 14 anos na Polícia Civil, é casada e mãe de um menino. Ela ficou um ano e meio na corregedoria.
A ameaça ocorreu quando ela estava prestes a concluir a investigação na qual os delegados Roberto Leon Carrel e Luiz Henrique Mendes de Moraes, juntamente com os investigadores Ismar José da Cruz, João Carlos da Silva e Valdir Jacinto dos Santos, acabaram acusados pelo Ministério Público de sumir com os 327,5 kg de cocaína.
A delegada ouviu do interlocutor, segundo investigadores do 89º DP que tentam descobrir quem fez a ligação, que "deveria tomar cuidado com o caso que estava prestes a esclarecer [o desaparecimento da cocaína do Denarc], porque muita gente iria ser prejudicada com isso, inclusive ela própria".
De acordo com as investigações da delegada, os cinco policiais civis, todos eles no Denarc à época do sumiço da droga, em abril de 2003, substituíram os 327,5 kg de cocaína por outra com grau de pureza menor e, portanto, com menor valor.
A reportagem não conseguiu falar com a delegada ontem.

Afastamento
O afastamento da corregedoria anteontem ocorreu cinco dias após Alexandra ter concluído o inquérito sobre 29 pessoas -nove delas policiais civis, sendo três delegados- acusadas de integrar a quadrilha que usava a infra-estrutura da Polícia Civil em Ferraz para falsificar e vender CNHs (carteira nacional de habilitação).
Segundo o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, ela foi retirada por "retaliação".
Ao transferir a delegada para o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), que coordena os distritos policiais da capital, o delegado-geral Freire também fez com 45 investigações desenvolvidas pela policial sofressem alterações. Nesses casos, cerca de 80 policiais -dentre eles ao menos 20 delegados- são investigados.
Quando concluiu a apuração sobre a máfia das CNHs, a delegada pediu a decretação da prisão preventiva de todos os 29 suspeitos. Além de ser contra o pedido da decretação da prisão preventiva dos três delegados acusados, segundo apurou a Folha, a cúpula da Polícia Civil não queria que ela solicitasse à Justiça a quebra dos sigilos fiscal e telefônico dos acusados.


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