São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2001

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SS REFÉM

Curiosos se aglomeraram em bares e lanchonetes para acompanhar transmissão ao vivo do sequestro; assim como Patrícia Abravanel, população critica políticos e situação do país, e não os sequestradores

TV ligada atrai a atenção no centro

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

No centro de São Paulo, com os televisores da maioria das lojas de eletrodomésticos desligados por conta do racionamento, os curiosos acompanhavam a transmissão ao vivo do sequestro do apresentador Silvio Santos pelas TVs de bares e lanchonetes.
Na rua Barão de Itapetininga, ao lado do Teatro Municipal, um grupo de pessoas se concentrava ao redor do aparelho instalado na barraca do vendedor de antenas Roberto Luiz Cirilo, que não vendeu nada porque seu propagandista, o locutor J. Ávila, 54, não podia apregoar os produtos.
"Normalmente eu fico falando, mas hoje não tem condições porque está todo mundo ligado no sequestro", disse Ávila.
O locutor, como muitos que estavam por ali, assumiu o discurso da filha do empresário Patrícia Abravanel e preferiu criticar os políticos e a situação do país, e não os sequestradores.
"Tem que olhar para o problema social. Os políticos estão esquecendo o lado humanitário, só pensam neles. O Brasil está descaminhando para uma Colômbia."
Os homens-sanduíches, em grande parte aposentados que circulam pelo centro com cartazes presos ao corpo trazendo ofertas de emprego, também acompanhavam o caso. "O governo devia tomar alguma providência", disse Ernesto Mendes, 78. "Isso é muito ruim, e logo com um homem tão bom como o Sílvio."
O apresentador foi defendido ainda pelo vendedor Alex Pires, 25. "Ele não tem culpa de ter dinheiro e a gente não ter", disse.
O vendedor disse não achar, porém, que seja o desemprego a causa. "Contribui, mas tem gente que não tem emprego e vai catar latinha, vai se virar para sobreviver."
"Tem gente que é tão pobre e vive honestamente", concordou a aposentada Wilma Costa, 60.
O barman José Luciê, 22, estava vindo do trabalho e também parou para acompanhar o sequestro pela TV. A opinião era a mesma: "Acho que tem muita corrupção e faltam oportunidades, porque o povo brasileiro é trabalhador".
Entre os ouvidos, apenas a aposentada Maria de Jesus Soares, 70, criticou os sequestradores. "Eles são culpados, isso já vem do berço. Tem gente que nasce ruim, não é o desemprego que torna a pessoa bandido. Se fosse assim, quantos não teriam virado?"


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