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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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URBANISMO

Entidade internacional dirigida pelo brasileiro Jaime Lerner quer reunir idéias para tratar de "doenças" das cidades

Concurso de arquitetos promove "acupuntura urbana"

Maurílio Cheli/Folha Imagem
O ex-governador do Paraná Jaime Lerner, que dirige a UIA (União Internacional de Arquitetos), entidade que reúne cerca de 1,5 milhão de associados em 98 países


LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Se um corpo humano está doente e o tratamento escolhido é a acupuntura, agulhas serão aplicadas em pontos específicos para que a energia fique desobstruída e estimulada, de maneira a beneficiar todo o conjunto.
Esse conceito é a base para o concurso mundial que a UIA (União Internacional de Arquitetos) lança na próxima semana com o apoio da Unesco e que tem por objetivo reunir um vasto manancial de idéias que contribuam para tratar "doenças" urbanas das cidades modernas.
A UIA congrega cerca de 1,5 milhão de arquitetos em 98 países e é dirigida, desde o ano passado, pelo brasileiro Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná.
De acordo com Jaime Lerner, a intenção do concurso "Celebração das Cidades", destinado a arquitetos e também a estudantes, em categorias específicas, é estimular o surgimento de idéias pontuais para a solução rápida de problemas específicos das cidades contemporâneas.
Para o arquiteto, a proposta da União Internacional de Arquitetos se insere no debate que opõe globalização e solidariedade no mundo moderno. "Aos aspectos negativos da globalização deve se contrapor a solidariedade. E a cidade é o grande refúgio da solidariedade, uma vez que a qualidade de vida deve estar ali, as salvaguardas da cidadania devem estar ali. É nas cidades que será possível proteger as pessoas dos efeitos maléficos da globalização, como a perda da identidade e a extraterritorialidade das decisões."
Na opinião de Lerner, "há uma visão pessimista de que a cidade é sempre um problema sem solução. O que queremos é justamente estimular os arquitetos de todo o mundo a trabalharem contra isso, propondo idéias de soluções que possam vir a ser adotadas. Nada de gigantismos, mas sim idéias pontuais mesmo, que revitalizem, estimulem a vida cotidiana em pontos problemáticos da cidade", diz o arquiteto.
Os trabalhos poderão ser inscritos nas representações da União Internacional de Arquitetos em todo o mundo. No Brasil, devem ser encaminhadas às regionais do Instituto dos Arquitetos do Brasil, onde se encontra disponível o regulamento do certame.
"Imaginamos que, como há cerca de mil cidades integradas à UIA, haverá inscrições em pelo menos 500 delas", afirma Lerner. "Se os profissionais e estudantes de cada cidade apresentarem cem idéias, teremos um banco de propostas com nada menos que 50 mil possibilidades. Certamente muita coisa interessante vai surgir dali", completa.
Como exemplo bem-sucedidos de "acupuntura urbana", Lerner cita o caso da Pinacoteca do Estado, em São Paulo, que foi reformada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e se converteu em polo de "energização" de toda a área do parque da Luz. Outro exemplo seria a revitalização do Pelourinho, em Salvador, ou ainda a construção do museu Guggenheim, em Bilbao (Espanha). "Em todos esses casos a intervenção urbana deu nova vida ao entorno da região."
Os trabalhos apresentados para o concurso serão selecionados por júris específicos em cada país, ou em cada cidade, nos casos das grandes metrópoles. Os mais bem qualificados participarão de uma triagem final, a ser realizada em março de 2004 em Paris, cabendo aos trabalhos vencedores prêmios no total de 20 mil.

União Internacional de Arquitetos: www.uia-architectes.org

Instituto dos Arquitetos do Brasil: www.iab.org.br


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