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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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CAMPOS DO JORDÃO

Comércio de temporada "rouba" lucro local

ISABELA SALGUEIRO
DAS REGIONAIS

O inverno nada rigoroso de julho pode ter prejudicado a temporada deste ano em Campos do Jordão, mas, para a Associação Comercial e Industrial da cidade, não foi o motivo principal para a queda de 20% registrada nas vendas em relação ao ano passado.
Para o presidente da entidade, José Carlos Fernandes, o que gerou menor lucro foi o chamado comércio sazonal, que se instala na cidade só na temporada de inverno. Também devido aos "sazonais", diz Fernandes, os restaurantes foram os mais afetados -tiveram 30% a menos de lucro.
Fernandes atribuiu esse quadro a um decreto baixado no início deste ano pelo prefeito Lélio Gomes (PSB), depois transformado em lei pela Câmara -o Duli (Documento Único de Liberação).
"Além do frio, que não veio, teve a situação [econômica]. Mas o decreto do prefeito que permitiu que restaurantes se instalassem na cidade foi o principal motivo [para a queda nas vendas]", disse.
A afirmação foi confirmada pela própria prefeitura, que, por meio de sua assessoria, admitiu ter perdido o controle da situação do comércio sazonal. A assessoria informou que a lei foi revogada, pois vai passar por alterações.
O prefeito, segundo a assessoria, reconheceu que o Duli não surtiu o efeito esperado. A prefeitura, com ele, pretendia simplificar o processo por que passa quem quer autorização para abrir um estabelecimento comercial.
O problema ocorreu, segundo a assessoria, pois alguns comerciantes pediam autorização para certo tipo de atividade e acabavam exercendo outras, além da autorizada. Por exemplo: a permissão para vender algum produto era esticada e, no local, abria-se um restaurante. Com o Duli, os comerciantes sentiram-se no direito de exercer qualquer atividade e acabaram burlando a lei.
Isso não significa que todas as pessoas que abriram estabelecimento em Campos no inverno usaram o documento incorretamente. Nem que a prefeitura, em 2004, negará autorizações a quem quiser se instalar na temporada. Segundo a assessoria, o município não vai barrar comerciantes, desde que sejam pagos os impostos de cada atividade exercida.
Mas, segundo a assessoria, o número de pedidos de instalação de comercial sazonal caiu de cerca de 200, no ano passado, para 150.
Segundo a Secretaria de Estado da Cultura, 80 mil pessoas visitaram a cidade no Festival de Inverno deste ano -77 mil em 2002 e 70 mil em 2001. Na temporada, segundo a Secretaria de Turismo de Campos, a cidade recebeu cerca de 1,5 milhão de pessoas.

Perfil de Campos
Se de um lado está o comércio, que reclama da queda dos lucros, do outro está a rede hoteleira, que não pode dizer o mesmo. Segundo o presidente da Associação de Hotelaria e Gastronomia da cidade, Abdou Antônio Farah, o setor teve um movimento tão bom quanto o do ano passado. Mas a associação não tem números do desempenho do setor.
O setor, diz Farah, adotou estratégia nova neste ano: valorizar todas as estações, não só o inverno. "Nós não estamos medindo só a temporada de inverno, só julho. Nessa média, estamos melhores que no ano passado", informou.
Farah disse que, "pelo que soube", o comércio percebeu queda nas vendas. Para ele, a causa, além do Duli, foi a mudança de perfil dos visitantes. Farah acredita que os frequentadores de Campos não estão interessados em ver na cidade o que já presenciam todos os dias onde vivem.
"Temos que nos adaptar, entender o comportamento do cliente. Se [o visitante] encontra no comércio uma mesmice, [o comércio] não atrai mais os clientes."
Ele acredita que o público notou que a melhor época para visitar a cidade não é a lotada temporada de inverno, mas que esse ainda é um dos atrativos principais, mesmo mais quente que o normal.


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