São Paulo, Domingo, 31 de Outubro de 1999
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PERSONAGEM
Escola de luteria abriga 60 crianças
"Luthier" fabrica violão certificado

do enviado especial a Manaus

Pergunte a Rubens Gomes de onde ele é e a resposta será tão ampla quanto imprecisa: do Amapá, de Manaus, da floresta. Um amazônida, como diz o músico e improvável "luthier" (artesão que fabrica instrumentos de corda) de 40 anos, nascido mesmo em Serra do Navio (AP).
Cada violão Manaós consome 3 a 4 meses e sai por R$ 6 mil. Gomes só trabalha com madeiras da Amazônia, mais de 20 espécies, certificadas. Confecciona também cavaquinhos, violas e o "cuatro venezuelano" (que tem, claro, quatro cordas).
No tampo o "luthier" usa marupá, madeira branca e leve, que substitui o pinho. Para o braço, busca um substituto do cedro (leve e estável), pois só consegue obtê-lo certificado na Bolívia. Na escala, o raro ébano cede lugar para preciosa, coração-de-negro ou gumbeira, escuras e densas.
Fundo e lateral saem do pau-rainha, sucessor do jacarandá-da-bahia, em extinção. Nos motivos da boca e da voluta (ou cabeça), Gomes se inspira na cúpula e nos mosaicos do Teatro Amazonas.
Há um ano Gomes não vende um violão. Dedica todo seu tempo à Oficina Escola de Luteria da Amazônia, que criou em Manaus em janeiro de 1998. São 60 crianças e jovens carentes, de 9 a 21 anos, que recebem bolsas de R$ 75 para aprender a profissão.
Os violões que fabricam são vendidos a R$ 800 mas Gomes diz que a escola privilegia conhecimento e não produção. Cada uma das seis partes do instrumento de corda é aprendida em três meses e o curso, portanto, dura 18.
Logo depois de aberta, a escola foi "adotada" pela certificadora de madeira Imaflora, que segundo Gomes "viu de longe que a luteria era o canal". (ML)


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