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VIOLÊNCIA
Caso levou à condenação do Brasil em comissão internacional
Economista é preso 19 anos após balear a mulher
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dezenove anos e três meses depois de tentar matar a ex-mulher,
o economista Marco Antônio Heredia Viveiros, 57, foi preso anteontem em Natal (RN). Por causa desse crime, o Brasil foi condenado, em 2001, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos por omissão em relação à violência doméstica.
A prisão ocorreu um ano e dez
meses depois de o Brasil ter sido
condenado pela corte interamericana e sete meses antes da prescrição da pena de Viveiros. Ele tentou matar, com um tiro nas costas, a ex-mulher.
Maria da Penha Maia Fernandes, 57, ficou paraplégica e virou
militante feminista. O disparo a
atingiu enquanto dormia na casa
onde o casal morava com os três
filhos, em Fortaleza (CE).
A comissão apontou essa tentativa de homicídio como exemplo
de impunidade no país. Viveiros
foi julgado e condenado pela segunda vez em 1996, mas jamais foi
preso. O primeiro julgamento, em
1991, foi anulado.
A condenação sofrida pelo Brasil na comissão (órgão da Organização dos Estados Americanos,
sediada em Washington) não tem
efeito jurídico. No entanto, o país
foi submetido a constrangimento,
ao ser acusado de omissão em relatório internacional.
A prisão de Viveiros, diz a advogada Valéria Pandjarjian, é prova
de que a pressão internacional é
eficaz no caso de crimes contra os
direitos humanos. Ela é do Comitê Latino-Americano pela Defesa
do Direito das Mulheres, que
atuou no caso.
O argumento de Pandjarjian,
nesse caso, é baseado no fato de
Viveiros ter paradeiro conhecido
da Justiça. Tanto é assim que ele
foi preso no trabalho.
Liliana Tojo, do Centro pela Justiça e o Direito Internacional, que
também trabalhou no caso, explica que o Brasil ainda precisa cumprir dois quesitos da condenação
por violência doméstica: fazer
campanhas de prevenção contra
esse tipo de crime e indenizar financeiramente Maria da Penha
Maia Fernandes.
Fernandes disse à Folha, por telefone, que os filhos, embora não
tivessem contato com o pai, ficaram chocados ao vê-lo algemado
no telejornal local.
Ela, que passou os últimos 19
anos tentando fazer justiça, diz ter
um sentimento de "missão cumprida" com o desfecho do caso.
O trauma de Fernandes em relação ao ex-marido é tão grande
que, em 2001, quando deu a primeira entrevista à Folha, na sua
casa, em Fortaleza, ela disse ter esquecido a data do seu casamento:
"Apaguei da memória".
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