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10 SOLUÇÕES PARA A CIDADE
Dez especialistas ouvidos pela Folha sugerem medidas simples e baratas que teriam impacto rápido sobre o cotidiano urbano
São Paulo ainda precisa fazer o óbvio
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
À primeira vista, a cidade de São
Paulo é um desastre anunciado.
Faltam 380 mil moradias, 4 milhões de pessoas vivem em áreas
onde não há um único leito hospitalar e a velocidade média dos
ônibus regrediu ao patamar do
século 19 -é similar à das diligências que conquistaram o oeste
dos Estados Unidos, de 12 a 15
quilômetros por hora. Como a capacidade de investimento da prefeitura é cada vez menor, por causa da dívida, os números podem
provocar uma sensação de impotência: como não há nada a fazer,
que venha o desastre.
Dez especialistas ouvidos pela
Folha mostram que essa avaliação é equivocada: ainda há uma
série de medidas simples, óbvias
(por serem praticamente consensuais entre os especialistas) e baratas que podem mexer com o tecido urbano.
Obviedades ainda não foram
feitas por uma razão mais ou menos simples: há um déficit de políticas públicas em virtualmente todas as áreas de atuação do poder
público. Os entraves, na maioria
dos casos, são políticos ou administrativos -a prefeitura usa ferramentas gerenciais do século 19.
Quer ver? Os cerca de 10 mil ônibus que transitam pela cidade não
contam com um sistema de controle e informação, seja via satélite
ou por ondas de rádio, como
ocorre nos Estados Unidos e na
Europa. Os ônibus respondem
por cerca de 80% das viagens do
transporte coletivo.
"Tem de existir um sistema de
controle de ônibus, que interfira
rápido nos problemas para garantir que esse sistema tenha eficiência", diz Eduardo Vasconcellos,
engenheiro de transportes que já
foi diretor da Associação Nacional dos Transportes Públicos.
Outra obviedade que falta aos
ônibus, segundo Vasconcellos, é a
informação prévia e nos pontos
sobre linhas e horários.
Na saúde, ocorre um fenômeno
similar, de acordo com Paulo
Eduardo Mangeon Elias, professor de políticas de saúde da Faculdade de Medicina da USP. Não há
um sistema que informe o que faz
cada uma das unidades ou hospitais. O resultado é que ninguém
sabe a quem recorrer e hospitais
altamente especializados, como o
das Clínicas, acabam sendo utilizados por pacientes que poderiam ser tratados por unidades
básicas.
O arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, que projetou os hospitais da rede Sarah em Brasília e
Salvador, diz que há soluções para
a habitação -a produção de peças pré-moldadas em escala industrial. O que falta, para ele, é
vontade política de afrontar o sistema segundo o qual as empreiteiras financiam as campanhas
políticas e os políticos dão o troco
em forma de obras quando chegam ao poder.
José Teixeira Coelho, professor
da Escola de Comunicações e Artes da USP e especialista em políticas culturais, sugere que São Paulo volte a debater uma questão óbvia e clássica para as cidades -a
beleza urbana. A busca da beleza
poderia começar, de acordo com
ele, pelo combate à pichação.
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