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Daniel Bergamasco
Eles gostam mais do casamento
Diferença de avaliação sobre a vida a dois entre homens e mulheres cresce conforme a idade
Uma das verdades universais diz que mulher adora casar e faz tudo para isso, enquanto os homens resistem o quanto podem, porque casamento não é vantagem para eles. Pode até ser, mas deve haver algum encanto nessa gaiola, para justificar os 88% de entrevistados masculinos que qualificam a vida a dois como ótima/boa. Entre elas, a satisfação também é alta, mas nem tanto: 82%. Eles estão sendo políticos ou sinceros?
“Sinceros. Não é difícil entender o porquê”, diz o psicanalista Ailton Amelio da Silva, doutor pela USP, co-autor do livro “Para Viver um Grande Amor” (editora Gente), sobre felicidade conjugal. “Os homens têm mais subterfúgios quando há problemas no casamento: vão para o bar com os amigos, abstraem vendo um jogo de futebol na televisão. Eles sofrem mesmo é quando estão sozinhos”, diz. “As brigas são mais sofridas para as mulheres, que querem ficar discutindo a relação e pensando no assunto.”
Em geral, os mais jovens se dizem mais felizes. Entre os que têm de 16 a 25 anos, 92% dos homens afirmam que o casamento está “ótimo” e “bom”. A diferença com as mu-lheres é de apenas três pontos percentuais: 89%.
A distância atinge seu auge depois dos 41 anos: 87% dos homens contra 77% das mulheres. Nessa faixa, 5% delas dizem que o relacionamento está “ruim” ou “péssimo” (dos 16 aos 40 anos, só 1% delas dizia isso), contra 2% deles (mesmo percentual verificado em qualquer faixa etária).
Rosane Mantilla de Souza, doutora em psicologia pela PUC, afirma que objetivos diferentes de vida são uma das causas da disparidade.
“Os homens se casam para constituir família, e seus desejos são, em grande parte, os de solteiro [veja quadro]. Já as mulheres se casam para realizar um sonho, mas o casamento e os filhos acabam pesando muito mais sobre ela, que tem que ser mulher, mãe, profissional e ainda enfrentar uma quarta jornada: ser bonita.”
A psicóloga Andréa Soutto Mayor, doutoranda pela USP na área de relacionamento amoroso, diz que o casamento é mais cômodo para os homens, que têm comida, roupa lavada...
“As mulheres já foram mais conformadas, mas isso mudou. O casamento feliz acontece quando os dois começam a ter objetivos em comum, pensar a vida como uma jornada, na qual os dois caminham juntos, mas sem abrir mão de espaços individuais.”
Todo homem é solteiro e sem filhos
É o que um alienígena concluiria
ao conhecer qualquer banca de
revistas. Enquanto as publicações
femininas são claramente
diferenciadas para leitoras solteiras
e casadas, as masculinas ignoram
qualquer assunto do tipo cricri –nada de crianças, criadagem, crise
(conjugal). Falam basicamente
de mulher e dos eternos objetos de desejo dos meninos que, ao menos
nas bancas, eles parecem continuar sendo toda a vida.
RELACIONAMENTO
“Como convencer sua garota a não usar calcinha” (“VIP”)
“Seis formar sutis (e deliciosas) de entrar em
contato com ele” (“Nova”)
TRABALHO
“Mulher com filhos x Mulher sem filhos – Quem fica com a vaga?” (“Claudia”)
Empresário “conta sua trajetória surpreendente de vida e revela como é o seu dia-a-dia no trabalho” (“Universo Masculino”)
OBJETO DE DESEJO
“Carros a hidrogênio ou eletricidade são a sensação lá fora” (“Homem Vogue”)
“Mala e kit para piquenique vintage, R$ 8.500, Vila Vitória” (“Vogue”)
TESTE
“Enviamos nosso repórter a campo [no parque Ibirapuera] para saber o que mais chama atenção das mulheres: uma bicicleta toda equipada, um cachorro fofo, uma criança loirinha ou um
documento avantajado” (“VIP”)
“Marie Claire' convidou 4 mulheres para tirar
a limpo as queixas de seus parceiros. Durante uma semana, elas fizeram o que eles queriam. Será que eles ficaram mesmo satisfeitos?” (“Marie Claire”)
ARTES MANUAIS
“Fábrica de calcinhas – Nosso repórter aprende a fazer essa peça tão pequena e tão importante para as garotas” (“VIP”)
“Calça bordada - Transforme a peça em item
fashion com paetês e miçangas” (“Manequim”)
PERFIS
O correspondente de guerra David Halberstam: “Sua carreira foi brilhante, alternando clássicos do jornalismo político e internacional com grandes
feitos em jornalismo esportivo” (“Homem Vogue”)
A correspondente de guerra Christiane Amanpour: “Nem o filho pequeno a impede de relatar,
direto do front, os eventos mais terríveis do
nosso tempo...” (“Claudia”)
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