São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007 |
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Daniel Bergamasco 1 em cada 3 jovens é filho de separados
Na média geral da população, percentual é de 1 para 4; pobres se separam mais que ricos
O escritório de advocacia de Kari-me Costalunga, que atua na área de divórcios e é pesquisadora da Fun-dação Getulio Vargas, está perto de criar um “programa de milhagens”, brinca a advogada. “Muitos clientes nos procuram para se divorciar pela segunda vez. Temos um que nos procurou pela terceira”, conta.
O fenômeno que Costalunga observa no dia-a-dia de trabalho é também claro na pesquisa Datafolha. Um terço dos filhos de pais que viveram juntos, de 16 a 25 anos, já passou pela experiência de seus pais terem se separado. São 34% dos meninos e 30% das meninas, sendo que, por algum motivo, mais 10% do total não quiseram ou não souberam responder se os pais estavam ou não juntos.
análiseFalta cultura de separação - por Rosely SayãoA separação conjugal já faz parte da vida da família contemporânea seja como fato, seja como possibilidade. A questão é: como o fenômeno, que se tornou freqüente, atinge a vida dos filhos? Nas décadas de 1960 e 70, estudos científicos a respeito do impacto da separação dos pais na vida de crianças e adolescentes concluíram que os prejuízos à sua formação eram intensos e sérios. Pesquisas mais recentes passaram a questionar tal certeza, mostrando que, depois de um tempo de sofrimento e adaptação, os filhos conseguem reorganizar suas vidas, alcançam um novo equilíbrio e continuam a se desenvolver e a viver com todo o potencial em ação. Mas de nada servem essas evidências se a maioria ainda acredita que essa possibilidade é mínima, como revela a pesquisa do Datafolha. Parece que as mudanças sociais antecedem as pessoais. A chegada do divórcio permitiu que casais se separassem sem ter de enfrentar os preconceitos usuais da sociedade, e tal fato mudou radicalmente a situação a ser enfrentada pelos filhos. Entretanto, parece que ainda não demos sentido a essa nova realidade, já que insistimos em manter a idéia de que a formação da criança ficará prejudicada. Falta dar um passo decisivo e deixar de considerar a separação em si prejudicial, inclusive porque a maioria das pessoas não está disposta a abdicar dessa possibilidade. A questão que agora se coloca é a de aprender a se separar –ainda estamos em fase de construção de uma cultura a esse respeito. A maneira como os pais se separam; como passam a se relacionar com o ex-cônjuge e com os filhos; a forma como comunicam a decisão a eles e a continuidade do exercício responsável do papel parental são fatores decisivos, capazes tanto de provocar prejuízos à formação das crianças como de ajudar a reduzir os danos resultantes da separação. Embora a situação seja difícil para os adultos envolvidos, é preciso usar todos os recursos que a maturidade possibilita para poupar os filhos, o máximo possível, de vivências mais conflituosas e dolorosas do que a que já vivem. Afinal, não foram os filhos que decidiram casar, gerar descendentes e depois dissolver a união. Como muitos costumam dizer aos pais na adolescência, eles não pediram para nascer: foram desejados. Só 45% pagam pensão O percentual de homens separados que pagam pensão alimentícia para os filhos é de 45%, revela a pesquisa Datafolha. Para a promotora Vânia Ruffini Balera, coordenadora do Centro de Apoio das Promotorias Cíveis de São Paulo, o número é baixo porque grande parte das famílias se entende por meio de acordos informais, como fazer com que o pai pague a escola ou compre alimentos para casa. “Muitos dos que têm esse compromisso acham que ele não conta como pensão, por não ser algo formal. Mas, se é suficiente para a criança, pode ser a melhor saída”, diz ela. “Os casos mais comuns de pais que não pagam pensão são aqueles em que eles não têm contato com as crianças, muitas vezes porque querem.” Eduardo Dias, promotor da Infância e Juventude de São Paulo, diz que, quando a mãe entra na Justiça, a vitória é quase certa, mesmo quando o pai está desempregado. “O juiz decide pelo pagamento, porque a criança precisa se alimentar. Em alguns casos, pode ser decidido pela suspensão do depósito só no período em que o pai não tem emprego, mas isso é raro. Não existe ex-pai e ex-mãe; o que existe é ex-marido e ex-mulher.” O percentual de homens que paga pensão para a ex-mulher é de 7%. Entre as mulheres, a taxa das que pagam pensão aos filhos é de 1% –em grande parte porque elas, quase sempre, ficam com a guarda. Se somados homens e mulheres, 20% dos brasileiros que têm filhos vivendo com o ex-cônjuge têm o compromisso de pagar pensão alimentícia. Os ricos não são os que mais pagam: na média, 43% dos que ganham de dez a 20 salários mínimos pagam, contra 31% dos que recebem mais de 20 salários. Texto Anterior: Constituição Familiar: Solidão pesa mais para elas Próximo Texto: Alta infidelidade Índice |
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