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Falta de tudo, menos quem tenha Oliveira no sobrenome Casamento dentro da família é fato comum DO ENVIADO À ILHA MONTÃO DE TRIGOA água limpa vem das minas, mas prejudica as crianças pois tem muito ferro. A energia elétrica, em só duas casas, vem de geradores que não conseguem manter funcionando uma geladeira. Nem o computador da escola, onde estudam 11 crianças, só até a 4ª série. Daí para a frente, é parar de estudar ou rumar para o continente. O último médico pisou na ilha lá se vão uns dois anos, dizem moradores. É cada vez menor a renda da pesca artesanal -acossada pela ascensão da pesca em escala industrial- e não há outra fonte. Apenas duas coisas funcionam à perfeição na ilha: a natureza e o sinal de celular, disponível em qualquer canto. Mesmo assim, o pescador Adilson de Almeida Oliveira, 37, ama a ilha onde vive com a mulher Valéria e os filhos Sara, 4, e Emanuel, 11, na casa precária de madeira, sem TV e geladeira -só lâmpadas e rádio movidos a energia solar. "TV eu não tenho porque não gosto", diz Oliveira, evangélico como a maioria. São os cultos com o pastor Valentim de Oliveira, três vezes por semana, uma das formas de reunir a comunidade. Para Valéria, a falta de estrutura de saúde é o grande problema. "Se a criança pega uma virose, sofre muito." Aparecida de Oliveira Mateus Souza, 34, concorda: teve que, de madrugada, levar ao continente a filha de 19 anos, com crise epiléptica, no pequeno barco de pesca. Aparecida, que tem outra menina, de 8 anos, pensa em ir embora. Mas, diz, as crianças da ilha nem pensam nisso. "Nesta idade, acham maravilhoso, vivem livres, é o paraíso." Os maiores animais da ilha são cotias e macacos. Aparecida é a merendeira da escola, faz a principal refeição das crianças no dia. A merenda é do Estado -inclui carne, frango e legumes, em contraposição ao cardápio caiçara, basicamente peixe, arroz, feijão e banana. Uma das consequências de os ilhéus obterem o TAUS é que poderão exigir melhorias, como saneamento, água encanada e casas e se inscrever em programas sociais. OLIVEIRAS Os personagens citados têm, não por acaso, o sobrenome Oliveira. É o mesmo de quase todos os moradores, já que gerações seguidas na ilha resultaram em vários casamentos dentro da família. No píer, já na partida para o continente, a Folha encontrou mais dois Oliveiras, irmãos e pescadores. "Se não tivesse nascido na ilha, eu não estaria aqui", diz Nelson, 79, ao lado de Alfredo, 78. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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