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Crack por Cristo Instalada no meio da cracolândia há quase dois anos, Cristolândia vira refúgio de usuários de drogas após início de operação policial ELIANE TRINDADECOLABORAÇÃO PARA A FOLHA APU GOMES DE SÃO PAULO Desgarrados da multidão maltrapilha da cracolândia, dez usuários de crack se alinham diariamente em colchões rasgados e em camas de papelão na calçada do número 509 da alameda Barão de Piracicaba, na região central de São Paulo. Eles buscam abrigo na porta da Cristolândia, misto de igreja e centro comunitário, que funciona ali há quase dois anos. São "refugiados" de uma cracolândia dispersa pela Polícia Militar. "Estou correndo do cachimbo [de crack] e dos homens. Aqui a polícia deixa a gente em paz", diz Daiane Soares, 26, sobre a operação policial deflagrada em 3 de janeiro. Ela espera há seis dias vaga em uma clínica que aceite casais para se tratar junto com o namorado, Wesley, 20. Com a presença ostensiva da PM na região, a missão Batista passou a funcionar em esquema de plantão, com suas portas abertas 24 horas para a galera acuada do crack. Com a proposta de fazer os usuários de drogas trocarem o "crack por Cristo", o projeto encaminhou nos últimos 22 meses cerca de mil usuários para internação e centros de formação evangélica. Remédios são evitados na fase de desintoxicação. "Só usamos tratamento medicamentoso em casos extremos. Para além da ciência, temos a fé. É o nosso diferencial", afirma o pastor Paulo Eduardo Vieira, 47, da 1ª Igreja Batista de São Paulo, à qual a Cristolândia é vinculada. Para a pesquisadora Zila Sanches, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, não usar medicamento na desintoxicação dificulta o tratamento. "Sem remédio nos primeiros 15 dias de abstinência, o processo é mais doloroso física e emocionalmente", diz. Mas ela também vê pontos positivos. "Funciona para aqueles que já tenham uma crença e que buscam por conta própria a ajuda da igreja." INTERNAÇÕES Nas duas últimas semanas, o número de internações, via Cristolândia, bateu o recorde de 90. "Fazíamos uma média de 40 por mês. Já chegamos ao dobro disso em dez dias e vamos abrir novas 200 vagas", contabiliza o pastor Humberto Machado, 53, coordenador da missão. Na terça-feira, a Cristolândia passou no teste como refúgio. Uma ronda da PM tentou retirar da calçada uma dezena de usuários de drogas. "Aqui é solo sagrado", esbravejou o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua, que fazia uma de suas visitas ao projeto. A PM recuou. Na quarta, um oficial foi ao local. "O coronel viu que não somos contra a polícia", diz o missionário Gerson Machado. A Cristolândia é mantida por doações das igrejas Batistas. Os gastos são de R$ 70 mil por mês. Para atrair usuários de crack para os cultos matutinos, oferecem refeições, banho e roupa limpa. O alimento espiritual vem primeiro. "Deus não criou você para ser um verme na cracolândia", prega o pastor Humberto, 53. Ex-usuário de cocaína, ele usa sua experiência para provar o êxito do tratamento baseado na fé. "Cheirava cocaína dia e noite, comia lixo, fui preso e humilhado. Só via trevas", relata à plateia na cracolândia. A prefeitura diz que oferece abrigo e tratamento, mas em diferentes etapas. A ação existe desde 2009. Em dois anos, a prefeitura diz ter feito 12 mil atendimentos, sendo 3.000 internações. Segundo a prefeitura, quem não quer tratamento também pode receber abrigo. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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