Carnaval 2015
Bloco afro reúne 15 mil no centro de SP
Viaduto do Chá se transformou em camarote no desfile do Ilú Obá De Min, que marcou a estreia do Carnaval de rua
Grupo que completa dez anos e é formado principalmente por mulheres agradou pela 'diversidade'
O viaduto do Chá virou o camarote da estreia do Carnaval de rua paulistano na noite desta sexta (13).
Mais de 15 mil pessoas, de acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), assistiram ao desfile do bloco afro Ilú Obá De Min, composto majoritariamente por mulheres.
Como nos rituais do candomblé, o grupo pediu licença aos orixás para começar a festa, que neste ano homenageou a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977).
Partindo do vale do Anhangabaú, o cortejo seguiu pelo centro, passando pelo Theatro Municipal e terminando no largo do Paissandu.
Militantes do movimento negro, artistas e foliões formaram o público recorde bloco, que completa dez anos. "Triplicou. Era pequenininho, agora virou mundial", comemorou a atriz Edna Feri, que já fez parte do grupo. Com o tendão rompido, ela desfilava de cadeira de rodas. Sem reclamações. "É uma multidão, mas respeitosa."
A jornalista Luciana Araújo, 36, levou a filha de três anos e elogiou o clima "tranquilo" do desfile. "É importante que ela conheça a cultura afro-brasileira", afirmou, com a criança no colo.
A atriz Daniela Alves, 32, disse que a festa do Ilú Obá De Min traz diversidade à folia de São Paulo. "Nosso Carnaval pode ser muito mais."
NEGA DUDA
Líder do bloco, Nega Duda se divide entre o samba de roda, o candomblé, a produção cultural e a rotina de diarista.
Dois dias por semana, Ducineia Cardoso, 45, trabalha na casa de "amigas", conta.
Natural de São Francisco Conde, no Recôncavo Baiano, Nega é "makota de cabloco", uma espécie de assistente guardiã da mãe de santo de seu terreiro de candomblé.
Ela se mudou para São Paulo em 2003. Naquele ano, um produtor francês a convidou para um encontro de artistas em Montpellier, ao lado de 36 brasileiros.
Além de "ver outro mundo", segundo descreve, Nega conheceu mulheres com quem viria a fundar o bloco.
Paula Preta, uma das cantoras do bloco, define Nega Duda como referência do candomblé e inspiração para as mulheres. "A história dela precisa ser contada", diz.