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ilustrada em cima da hora

SPFW viaja pelo Brasil, pelo espaço e pela alma

Grifes fazem desfiles conceituais no penúltimo dia do evento

Maria Bonita, Gloria Coelho e João Pimenta buscam referências na história e na física para compor seus looks

VIVIAN WHITEMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O desfile é a narrativa da roupa. Na passarela, cada peça conta parte de uma história chamada coleção. O cenário, a música e os acessórios são todos pontos que dão corpo ao conto. E, no final, sobra na mente uma imagem viva, como uma foto num álbum de viagens animado.

A Maria Bonita, que mostrou suas criações no penúltimo dia da São Paulo Fashion Week, viajou pelos seringais, caminhando à beira-rio.

A paisagem toma conta das roupas, os tecidos roubam as cores do chão, das folhas, o pelo dos bichos cobre a pele. Os paetês são de látex, as franjas anos 20 ganham brilho de peixe.

As peças não fogem às formas simples da marca, está ali uma imagem conhecida do público da grife. Só que esta imagem agora caminha às margens de onde a onça bebe água, e é para esse lugar que mistura realidade e imaginário que a estilista Danielle Jensen leva sua cliente.

Já Gloria Coelho viaja entre o micro e o macro. As "trips" dessa estilista são sempre universais, fonte da força de seu trabalho, à parte o grande talento para a construção e modelagem.

Ela vai atrás dos neutrinos, partículas abundantes no universo, grande parte produzida por reações nucleares em estrelas. Experimentos dizem que eles poderiam viajar acima da velocidade da luz, talvez por dimensões extras do espaço. Ou seja, o neutrino é um dos grandes babados dos físicos contemporâneos.

Como mostrar algo tão impalpável na roupa? Por conexões de imagens e conceitos. Gloria elege os vulcões para falar dos mistérios que rolam nos núcleos das estrelas.

E desses vulcões saem camadas de lava que se solidificam em curvas. Na imaginação da estilista, os segredos dos neutrinos se transformam em aplicações que lembram explosões de galáxias, buracos negros e hemácias.

A ideia é que o destino de homens e universo está ligado por uma trama complexa, escrita nas estrelas. E a moça que catar esse foguete ainda volta do espaço numa elegância sideral.

Num dos postais mais interessantes da temporada, João Pimenta viaja ao século 19 e investiga a alma dos príncipes que, segundo ele, têm sempre uma porção monstro.

A alfaiataria, que anda entre o clássico e o experimental, e as texturas dos tecidos, feitos em teares manuais, constroem figuras dúbias, que misturam uma beleza de contornos femininos e a rudeza das lãs pesadas e dos couros duros.

Os olhos são emoldurados por olheiras sombrias que se transformam na máscara do Doutor da Peste. Criada por um médico que cuidava de doentes da peste negra, ela tem um bico onde eram colocadas ervas aromáticas na tentativa de "filtrar" a praga.

João e seus príncipes assombrados por uma "bad trip" doentia saem do livro da passarela e conversam com os pesadelos do observador.

As roupas vão e vêm. As narrativas e suas imagens permanecem e está nelas o grande poder da moda.

Fashion tags - #narrativa #viagem #imagem

DESFILES DE HOJE NA SPFW

11h30
Neon

15h30
Fernanda Yamamoto

17h
Alexandre Herchcovitch

19h30
Amapô

21h
André Lima

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