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Ponto de tráfico fica ao lado de delegacia

Por duas semanas, Folha flagra venda e consumo de crack em terreno ao lado do 77º DP, bem próximo à cracolândia

'Traficantes abastecem quem passa de carro pela avenida São João; parece um drive-thru', diz moradora da região

DIÓGENES MUNIZ
EDITOR-ADJUNTO DA TV FOLHA

O 77º Distrito Policial, do bairro Santa Cecília, no centro de São Paulo, é vizinho de um ponto de tráfico de crack.

Cerca de 20 pessoas, traficantes e usuários, circulam diariamente na área ao lado da delegacia vendendo e consumindo a droga dia e noite.

O DP fica a sete quadras das ruas Helvétia e Dino Bueno, epicentro da área conhecida como cracolândia, que desde o dia 3 de janeiro é alvo de uma operação policial.

Após colocar a tropa na rua, o comando da Polícia Militar prometeu acabar com o tráfico na região em um mês.

Ali perto, ao lado da delegacia, dependentes de drogas e traficantes permanecem há pelo menos cinco anos.

Reportagem de 2007 publicada pela Folha, sob o título "Garotos usam droga ao lado de delegacia", já expunha o consumo de crack no local.

Agora, a TV Folha acompanhou a movimentação por duas semanas e ouviu relatos. "A polícia já foi lá fazer batida, mas, depois de alguns dias, os craqueiros estão de volta", afirma uma moradora do bairro que pediu para não ter o nome publicado.

"Eles [traficantes] abastecem principalmente as pessoas que passam de carro ou param de táxi na avenida São João. É bem parecido com drive-thru", conta a moradora.

O tráfico se instalou nos espaços vazios sob uma alça de acesso ao elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão. É possível ver a "boca" dos andares de cima do DP.

O distrito policial da Santa Cecília é um dos mais "famosos" da cidade. O local costuma ser utilizado pela Polícia Civil para abrigar presos com curso superior ou que correriam risco em outras cadeias.

O casal Nardoni, os irmãos Cravinhos, o jornalista Antônio Pimenta Neves e o juiz Nicolau dos Santos Neto já passaram pelo 77º DP.

RAPIDEZ

Durante o dia, a maioria dos dependentes que recorre ao tráfico naquele ponto -alguns bem vestidos e de carro- apenas compra as pedras de crack, sem demora. À noite, quando o elevado Costa e Silva fecha para automóveis, o movimento fica intenso.

Quem escolhe usar a droga ao lado do prédio da polícia faz o que pode para se esconder -seja debaixo de pedaços de madeira, guarda-chuvas ou em tendas de plástico improvisadas.

Para evitar serem vistos, os traficantes cavaram um buraco ao lado da alça de acesso ao Minhocão. Até cinco pessoas chegam a entrar ao mesmo tempo no local.

Uma cerca de arame instalada no muro que divide a delegacia da "boca" revoltou os moradores da região.

"Até a delegacia está tentando se proteger", afirma José Ricardo Campelo, da Associação Santa Cecília Viva.

A Polícia Civil admite que instalou a cerca para se proteger. "[A cerca] se deve a um morador de rua ter sido flagrado no pátio da unidade, onde foi autuado por tentativa de furto qualificado, conforme boletim de ocorrência de 14 de dezembro de 2011", diz nota da Secretaria de Estado da Segurança Pública.

Segundo Campelo, a polícia foi informada da existência da "boca" durante uma reunião do Conselho Comunitário de Segurança, no ano passado. Porém, nada fez.

Veja imagens do tráfico ao lado do 77º DP
folha.com/no1041443

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