Menino de 5 anos morre ao cair do 26º andar de prédio na Grande SP
Criança havia sido deixada sozinha em apartamento pela mãe, que saiu para buscar namorado
Polícia diz não haver nenhum indício de homicídio doloso, mas de acidente agravado por negligência
Um menino de cinco anos morreu após cair do 26º andar do prédio onde morava com a mãe em Taboão da Serra (Grande São Paulo) por volta da 0h desta quinta (17).
A principal hipótese da polícia é que Gustavo Storto, 5, tenha escalado duas cadeiras e despencado da janela do banheiro –do tipo basculante, de fácil abertura e a única do imóvel sem rede de proteção.
Segundo a investigação, não havia nenhum indício de homicídio doloso (com intenção), mas apenas de acidente agravado por negligência.
A farmacêutica Juliana Souza Storto, 33, afirmou que deixou seu filho sozinho no apartamento para buscar seu namorado na av. Eng. Luís Carlos Berrini, próximo à estação de trem do Morumbi.
Na avaliação da polícia, Gustavo, que estava de pijama, provavelmente acordou, percebeu que estava sozinho e buscou uma forma de sair. Por essa versão, teria montado sua mochila com uma lancheira, um boneco e uma fronha, colocado um tênis e ido até a janela do banheiro, onde escalou duas cadeiras, apoiadas uma sobre a outra.
O corpo caiu no estacionamento do edifício Pitangueiras 1, na Chácara Agrindus.
O advogado Carlos Vadalá, contratado pela família da mãe, disse que Juliana estava abalada e tomando calmantes. "Ela já está cumprindo a pena dela, que é a perda do próprio filho", afirmou ele, sobre a possibilidade de ela ser indiciada por homicídio culposo (sem intenção).
Segundo ele, a mãe, que estava separada do pai havia cerca de quatro meses, "era extremamente cuidadosa e amorosa com seu filho".
"Foi a primeira vez [que ela deixou Gustavo sozinho], ela achou que fosse ser rápida."
RELATO E IMAGENS
O farmacêutico Giovanni Storto, 38, pai do garoto, afirmou que perdoava a ex-mulher. "Foi um acidente."
Familiares do pai afirmaram que o casal foi morar junto em 2009 e que o relacionamento terminou por brigas. Mas disseram que o convívio deles atualmente era bom.
Em depoimento à polícia, a mulher disse que ao retornar de carro com seu namorado percebeu que todas as luzes do apartamento estavam acesas e foi em direção ao quarto onde tinha deixado a criança dormindo.
No caminho ao quarto, disse ter visto a porta do banheiro aberta e duas cadeiras perto da janela. De lá, notou a movimentação e sirenes e suspeitou que seu filho tinha caído.
O casal mostrou um aparelho celular com as mensagens trocadas em um aplicativo para provar que eles não estavam no apartamento do momento da queda da criança.
O relato da mãe, segundo a polícia, coincide com as imagens de circuito interno do edifício –pelas quais ela saiu por volta das 23h de quarta (16) e voltou à 0h de quinta.
As mesmas câmeras gravaram a hora em que Juliana chegou no início da noite com a criança –que, à tarde, ficava na casa da avó materna.
O delegado Gílson Mendes Campinas, responsável pela investigação, disse que "tudo indica" que Juliana "era uma boa mãe", mas "tinha o dever de cuidar da criança" e "não cuidou". Por isso, diz, pode ser indiciada por homicídio culposo (sem intenção).
Segundo o delegado, antes de voltar para o imóvel, o casal parou numa lanchonete.
RISCO
Gabriela de Freitas, coordenadora da ONG Criança Segura, diz que a queda é o maior risco para crianças no ambiente doméstico. Por isso, é preciso proteger todas as janelas com redes de segurança, "mesmo as que parecem pequenas para os adultos".
"A criança não tem noção de consequência, é criativa."
Ela diz ser recomendável que redes de segurança sejam mantidas até a criança completar 12 anos. Até essa idade, crianças também não devem ser deixadas sozinhas.
"A família precisa avaliar a maturidade. A partir dos oito, nove anos, dá pra deixá-la por alguns minutos, mas não mais que isso." (MARTHA ALVES, GIBA BERGAMIM JR., JULIA BOARINI E RAFAEL RIBEIRO)