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PMs 'em serviço' ficam dentro de quartéis

Para fugir de punições, policiais que não aderiram à greve na Bahia até vão para unidades, mas não fazem patrulha

Parte do comércio do Periperi não funcionou porque comerciantes receberam panfleto que ordenavam fechamento

GRACILIANO ROCHA
DE SALVADOR
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A cem metros de uma rua onde o comércio fechou as portas por medo de arrastão, pelo menos dez policiais militares conversavam à sombra de uma árvore ou assistiam a uma novela vespertina no quartel do bairro de Paripe, na periferia de Salvador.

Para fugir de punições administrativas, os PMs que não aderiram oficialmente à greve até vão para as suas unidades, mas não realizam atividades de policiamento.

O aquartelamento foi constatado pela Folha em algumas das favelas e bairros mais violentos da capital baiana durante todo o dia de ontem.

VITRINE?

A prática abrange, inclusive, as bases comunitárias de segurança -uma das vitrines do governador Jaques Wagner (PT) na área periférica-, inspiradas no modelo de polícia pacificadora do Rio.

Por volta das 15h30 de ontem, 12 policiais e três carros estavam parados em frente à base de Fazenda Coutos. Pouco antes, o terror se instalou no bairro com o assalto e um arrastão em um mercado.

No Nordeste de Amaralina, conjunto de favelas e bairros populares, a Folha encontrou cerca de dez soldados aquartelados e um guincho recolhendo um carro de polícia com os pneus furados dentro de uma base da PM.

MEDO DE EXPULSÃO

Na favela do Calabar, os três carros que faziam o patrulhamento na área estavam parados em frente à base.

Alguns policiais militares disseram que estão aquartelados porque poderiam ser expulsos se aderissem à greve durante o estágio probatório.

Moradores e policiais contaram que nos últimos dias traficantes voltaram a operar nos pontos de drogas de onde haviam sido expulsos no ano passado, quando foi instalada a base do Calabar.

Para ficar nos quarteis, PMs também alegam risco de sair sem garantia de reforço em caso de confronto.

A Folha ouviu relatos de policiais estacionando carros de polícia em ruas secundárias. Quando recebem chamadas pelo rádio, respondem o código "alfa 18", que significa, no jargão da PM baiana, que estão de prontidão, mas não irão atender ocorrências.

Ontem, parte do comércio do Periperi não funcionou porque comerciantes receberam um panfleto que ordenava que fechassem as portas.

Lojistas atribuem a autoria a policiais militares em greve.

Militares do Exército foram ao local para patrulhar as ruas e ouviram que até garis foram impedidos de trabalhar.

OUTRO LADO

O comando da PM admite o aquartelamento. Ainda segundo o comando, a corporação vai apurar se há "corpo mole" na rádio-patrulha.

O chefe da base de Fazenda Coutos, tenente Alã Carlos, negou o aquartelamento e disse que três suspeitos de envolvimento em arrastões foram presos pela PM.

Colaboraram Moacyr Lopes Júnior, enviado a Salvador, e Luiza Bandeira, de São Paulo

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