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Piano do terminal Tietê mantém cubano afinado

LUCCA ROSSI
DE SÃO PAULO

Do piano de um dos restaurantes do saguão do terminal Tietê, disponível para o passageiro que se aventure a tocar, soam os acordes de "Desafinado". O pianista eventual é o músico cubano Ruben McCarthy, 58, radicado há 21 anos no Brasil.

É final da tarde de uma terça-feira de movimento tranquilo na maior rodoviária da América Latina. Após dedilhar os acordes do clássico de Tom Jobim para uma plateia de quase uma dúzia de desatentos, McCarthy começa a resumir sua biografia.

"Quando jovem, eu tocava em orquestras. Mas, em 1974, ingressei na banda do Exército de Cuba para não ser enviado à Angola [onde tropas cubanas lutavam na guerra civil daquele país]", conta.

Como tubista do Exército, McCarthy ganhou bolsa de estudos para ir à ex-União Soviética. Ficou cinco anos lá.

De volta a Cuba, o plano de escapar da guerra naufragou e ele foi enviado para a África. E é no retorno ao seu país que a história com o Brasil começa. Em 1990, McCarthy conheceu uma brasileira, os dois se casaram e vieram para São Paulo.

"Ela disse para ficarmos em Cuba, mas eu queria conhecer a música brasileira. Ouvia fitas do Tom Jobim."

No ano passado, com o fim do casamento, sua vida sofreu nova virada. Vendeu a casa, mudou-se para um hotel e se desfez dos instrumentos. Foi quando o piano do Tietê virou misto de sala de estudos e palco para o cubano -ele não ganha para tocar ali, mas diz receber doações eventuais de viajantes.

Há oito meses, quase todos os dias, vai ao terminal praticar músicas que já apresentou em bares de hotéis como Hilton e Maksoud Plaza.

"Hoje, dou aulas particulares. Estou reconstruindo a minha vida", conta. "Para quem esteve na guerra, isso é atirar fichinha."

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