Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Custo SP é explicado por trânsito e renda, dizem especialistas

Cidade é a 10ª mais cara do mundo, segundo ranking internacional; em geral, preços subiram 24% desde 2008

De 2004 para cá, m² de apartamento no centro triplicou; para não ter de se deslocar, pessoas aceitam pagar caro

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

O designer de moda Felipe Maduell, 28, mudou-se para São Paulo seduzido por uma proposta de trabalho. Ganharia em uma rede de lojas de roupas mais que o dobro do que tirava em Porto Alegre.

"Mas não contava com um aluguel tão caro", diz ele, morador há dez meses de uma quitinete na região central. "Pelo mesmo preço daria para alugar um apartamento de um ou dois quartos no Sul."

Poucos conseguem dizer por que a cidade ficou tão cara. Por trás do alto preço da lavanderia ou da pizza, há uma cadeia de fatores como o aumento da renda das pessoas, a questão cambial e o trânsito -sempre ele.

"Começa pelo preço do terreno", diz Cornélia Porto, que coordena pesquisas sobre custo de vida no Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Terreno caro é custo para escolas e restaurantes, e aumenta o valor de aluguéis e da casa própria.

"Isso leva pessoas a morar longe e a gastar mais com transporte", diz ela -o que encarece a mão de obra no setor de serviços, por exemplo.

Por causa da dificuldade de locomoção, outros "ficam dispostos a pagar mais para morar perto", diz Rafael Costa Lima, que coordena o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Resultado: o m² de um apartamento de um dormitório no centro, que em 2004 saía por R$ 1.700, triplicou.

Lima diz que o problema da locomoção afeta mais preços: mesmo que no mercado da zona leste seja mais barato, por exemplo, o morador de Pinheiros não se dispõe a ir até lá.

Segundo a Fipe, os preços na cidade subiram, em geral, 23,97% desde 2008.

A NÚMERO 10

Em 2011, São Paulo chegou ao décimo lugar no ranking das mais caras do mundo, segundo a consultoria Mercer, que todos os anos compara o preço de cerca de 200 itens em 214 lugares.

À frente de São Paulo estão: Luanda (Angola), Tóquio (Japão), Ndjamena (Chade), Moscou (Rússia), Genebra (Suíça), Osaka (Japão), Zurique (Suíça), Cingapura e Hong Kong (China).

Há nove anos na cidade, o consultor americano Jeremy Calkins, 34, diz que deixa para comprar roupas e eletrônicos nos EUA. Mas gasta bastante com comida por aqui.

"Um sanduíche no café ao lado de casa é R$ 20", diz ele, que mora no Itaim Bibi (zona oeste). Nos EUA, "por US$ 7 dá para comprar sopa, sanduíche e refrigerante com refil".

Segundo Lima, da Fipe, o custo internacional de São Paulo tende a ser "temporário". "Se houver recuperação econômica, a cidade pode deixar de ser cara para o padrão americano ou europeu."

Carlos Roberto Azzoni, professor de economia da USP, diz que, no país, São Paulo é em geral mais barata do que Brasília e empata com o Rio.

Mas ele adianta uma das possíveis causas do resultado: "São cidades que têm mais restrição de solo do que aqui por causa de limitações institucionais [caso de Brasília] ou naturais [caso do Rio]".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.