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Médium explora garimpo de ouro há 40 anos

Amigo diz que ele usa a mediunidade para indicar os melhores locais para achar ouro

DE BRASÍLIA
DA ENVIADA A ABADIÂNIA

Nem só de espiritualidade vive João de Deus. O médium construiu parcela significativa de seu patrimônio explorando garimpos de ouro ao longo dos últimos 40 anos.

Chegou até a ser proprietário de uma empresa de mineração, aberta em 2004 em parceria com uma cooperativa de garimpeiros do interior de Goiás.

Hoje, não há qualquer lavra registrada no DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), órgão federal de controle das atividades minerárias no país, em nome dele ou de empresa da qual seja sócio.

Contudo, amigos, auxiliares e assessores são unânimes ao dizer que João é garimpeiro e que ganha dinheiro com isso.

"João gosta muito de mineração, gosta de garimpo, sempre gostou", diz João Américo França Vieira, 52, uma espécie de braço direito do xará médium. "Tem muita coisa do patrimônio do João que é fruto de garimpo."

João Américo, minerador, afirma conhecer João de Deus há 29 anos. Diz que parte do dinheiro que permite os trabalhos sociais realizados pela Casa Dom Inácio Loyola, o centro espiritual de Abadiânia, vem de seus garimpos.

"Não sei se é coincidência ou se é alguma mediunidade, alguma coisa que faz com que isso aconteça. Mas o que ele tem falado tem dado certo."

João Américo refere-se a indicações feitas pelo médium a respeito de lugares onde a chance de achar ouro é considerada grande.

"Às vezes ele aciona [a mediunidade]. Por exemplo, eu tenho uma mineração no Pará. Ele disse: 'Você vai pra lá, você vai achar um negócio assim, assim, assim'. E aí deu certo. Cheguei lá e achei."

RECOMPENSA

A recompensa, diz João Américo, vem em forma de colaborações tanto "para a pessoa do João" quanto para os trabalhos sociais da Casa Dom Inácio de Loyola. Ele não falou em valores à Folha.

Hoje, João Américo é dono de um garimpo de ouro em Crixás (GO) que pertencia ao próprio João de Deus. Ficou com o garimpo numa terra de 30 alqueires e deixou com o médium uma fazenda à beira do rio Araguaia, com tamanho 20 vezes maior.

O braço direito de João de Deus -a quem o médium confia a missão de pilotar o avião que o leva para atendimentos pelo Brasil- tem um passado conturbado, justamente na área mineradora.

Américo foi sócio de um dos maiores matadores da garimpagem brasileiro, Márcio Martins da Costa, apelidado de "Rambo" e morto pela polícia paraense em 1992.

Eles abriram quatro empresas juntos, sendo duas mineradoras, no Pará. "Rambo" morreu sob suspeita de ter atuado diretamente em dezenas de homicídios.

O próprio João Américo já foi julgado por cinco homicídios em fevereiro deste ano. Foi inocentado, por falta de provas.

DÍVIDAS

A atividade garimpeira gerou a João de Deus, além de dinheiro, cobrança de dívidas. Ex-sócio do médium no garimpo e amigo de infância no interior goiano, Vilmar dos Santos, da cooperativa dos garimpeiros de Crixás, diz esperar até hoje o cumprimento de um acordo pelo qual ele ficaria com 35% da venda do negócio. Segundo suas contas, cerca de R$ 700 mil.

Vilmar afirma ainda confiar no pagamento, mas admite ter receio de ser mais firme na cobrança da suposta dívida do médium.

"Eu sou católico e não acredito nessas coisas de mediunidade. Mas a gente tem essas coisas, fica preocupado com isso, de ficar cutucando os 'trem'", afirma o ex-sócio de João de Deus.

(BRENO COSTA E CATIA SEABRA)

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