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Morador do centro fica encurralado durante a Virada

Paulistanos reclamam que não conseguem nem ir à padaria por conta da multidão e de seus excessos

Maior evento cultural da cidade deve reunir 4 milhões de pessoas no próximo final de semana, a partir das 18h de sábado

MARIANA DESIDÉRIO
DE SÃO PAULO

Comprar o pãozinho na padoca, o alface no mercado ou simplesmente assistir à tradicional missa de domingo vão se tornar "missões impossíveis" para Gilda Cruz, 58, no próximo fim de semana. Ela mora no centro de São Paulo há 30 anos. Há oito, tenta se esconder como pode do maior agito da metrópole: a Virada Cultural, que espera reunir 4 milhões de pessoas.

Gilda é daquelas que sonham em mandar a festa para bem distante de suas janelas. "Quem tem filho pequeno passa longe. Só tem desordem", reclama.

Para ela, o maior problema é a violência. Dona Gilda conta que, na última edição, uma briga deixou uma poça de sangue na porta do seu prédio, na avenida São João. Ocorrência esta que não foi registrada pela Polícia Militar. Neste ano, a PM diz que 3.153 policiais farão a segurança do evento.

"É bagunça cultural!", define uma senhora moradora do Arouche, que não quis ter o nome divulgado. Assim como dona Gilda, ela mora no centro há décadas (desde os anos 1970). Durante a Virada, se tranca em casa. O problema, para ela, é o barulho. "Aqui os vidros tremem, tem que fechar tudo. É só metaleira no duro!", reclama, indignada. Depois de se esconder no apartamento nas últimas edições, pensa agora em viajar para fugir da festa.

Os principais incomodados com a Virada são idosos e famílias com crianças pequenas, avalia Marco Antônio Ramos de Almeida, superintendente da associação Viva o Centro, que recebe reclamações recorrentes sobre som alto, sujeira nas ruas, grande concentração de pessoas, brigas e roubos.

OUTRAS BALADAS

Na tentativa de amenizar as reclamações, a Viva o Centro defende um segundo polo para a Virada. Com isso, acredita, aliviaria a concentração/lotação no centro paulistano. Defende ainda que essa "filial" ficaria encarregada de concentrar as músicas, ditas, "pesadas".

Outra demanda é que as áreas mais povoadas tenham atrações, digamos, mais "tranquilas". Para isso, a prefeitura procura fazer um rodízio de palcos em cada edição, diz a Secretaria de Cultura. A República, por exemplo, já recebeu rock. Neste edição, será o jazz.

Pois é justamente a variedade das atrações a grande cartada da Virada. Nisso, até a dona Gilda, que aparece no começo da reportagem, concorda. De seu apartamento, curtiu o show de Erasmo Carlos, que tocou no palco do Arouche, na edição passada.

"De casa, longe da multidão, não é que foi bom?"

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