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Avaliar caso de abandono é complexo, diz terapeuta

Para mestre em psicologia, é preciso avaliar lesões de fundo emocional

Filho que diz ter sido abandonado pelo pai afirma que disputa pode atrapalhar uma reaproximação

Alan Marques - 18.set.2009/Folhapress
Júlio Cézar da Mota, funcionário de um cursinho em Brasília que foi criado só pela mãe, diz achar boa a decisão do STJ
Júlio Cézar da Mota, funcionário de um cursinho em Brasília que foi criado só pela mãe, diz achar boa a decisão do STJ

CAROLINA LEAL
DE SÃO PAULO
JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA

Avaliar o abandono afetivo por parte de um pai e os danos que ele pode ter causado ao filho é tarefa complexa e depende muito de cada caso, na opinião da psicoterapeuta Tai Castilho. "Como vai ser avaliado esse abandono afetivo? Que lesões [do ponto de vista emocional] teve esse filho para mover uma ação?"

Segundo ela, em casos de separação conflituosa é comum a própria mãe se colocar de forma a afastar os filhos do ex-companheiro.

"Existe um jogo que é uma irritação da mulher de que os filhos fiquem com o pai." Isso, diz, leva a mãe a falar mal do pai para os filhos e, muitas vezes, "os filhos se aliam à mãe e evitam o pai".

Ela cita o caso de um jovem que ficou anos sem falar com o pai, acreditando que era negligenciado. Tempos depois, os dois se reaproximaram e o jovem descobriu que o pai observava o filho todos os dias na saída da escola, mas não tinha coragem de abordá-lo.

Já outra situação presenciada pela psicoterapeuta é a de um filho fruto de uma relação extraconjugal que ganhava pensão, mas era rejeitado pelo pai. "Isso eu entendo como abandono afetivo."

Para Júlio Cézar da Mota, 32, que passou pela situação, é positivo ter garantido direito à indenização por abandono afetivo, mas a batalha judicial pode atrapalhar eventual reaproximação com o pai.

"É boa [a decisão], tem pessoas que pensam diferente de mim. Eu não tenho coragem de correr atrás disso agora, mesmo com a decisão do STJ. Se fosse mais cedo, quando eu tinha uns 22 anos, acho que eu teria outra cabeça e iria atrás."

Para Mota, que trabalha em um cursinho de Brasília, é preciso pesar a vontade de se reaproximar da família.

"Não vai mudar [o passado] e acho que não fica legal em relação aos meus irmãos [por parte de pai]. Tenho um vínculo legal com eles. Agora, se o filho não quer ter uma reaproximação, mas quer a indenização, é outra coisa. Aí é indiferente a reação do pai."

Ele conta que foi criado pela mãe e que sentiu a falta do pai,que tentou reaproximação só no fim da adolescência, diz. "A gente passa por uma fase em que tem que ter apoio de pai e mãe, não só financeiro, mas de orientação pra vida."

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