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Casas da 1ª favela do país serão demolidas

No Rio, vão dar espaço à obra de revitalização

Daniel Marenco/Folhapress
Marcia de Jesus, que terá de deixar a casa
Marcia de Jesus, que terá de deixar a casa

DIANA BRITO
DANIEL MARENCO
DO RIO

A fachada da casa da aposentada Marcia Regina de Jesus, 53, ostenta pichação com a sigla SMH. Ela faz parte do grupo de cerca de 800 famílias que terão que deixar seus imóveis no morro da Providência, região central do Rio, para obras de revitalização da zona portuária.

SMH é Secretaria Municipal de Habitação. As letras pintadas na parede indicam que a casa será demolida.

"Isso [pichar as casas a serem demolidas] é coisa de Hitler, que marcava as pessoas. A prefeitura está fazendo terrorismo. Não houve diálogo com os moradores", disse.

Muitos afirmam não terem recebido da prefeitura informações sobre as compensações. Francisca Almeida, 69, que vive no alto do morro, diz que não foi procurada. "Moro aqui há mais de 30 anos, não quero sair. Sofremos tanto para agora deixar tudo para os turistas?", disse.

A pensionista lembra que, antes da instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), se escondia com a família num quartinho dos fundos quando havia tiroteio. "Agora que está mais seguro, a gente tem que ir embora?"

O secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar (PT), admitiu que alguns moradores ainda não foram convocados para reuniões com representantes da prefeitura. "Todos serão atendidos", disse.

Bittar disse que está prevista a realocação de 832 famílias. Até a semana passada, 157 já haviam sido removidas.

Segundo o secretário, elas receberam indenização, assistência para a compra de outro imóvel ou aluguel social de R$ 400, que será pago enquanto os apartamentos do governo não ficarem prontos.

"As casas que devem ser demolidas estão em áreas de risco ou em locais que serão usados para as construções do teleférico e do elevador, espaço de lazer e abertura de vias", disse Bittar.

No morro da Providência, atrás da Central do Brasil, surgiu a primeira favela do país. No final do século 19, confiantes na promessa do governo de que ganhariam casas na então capital, ex-combatentes da Guerra dos Canudos vieram para o Rio.

Como os entraves políticos e burocráticos atrasaram a construção dos alojamentos, eles passaram a ocupar provisoriamente uma parte do morro. Acabaram ficando.

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